
11/12/07
Com que crime eu
vou?
Está nas ruas, nas
praias, nas novelas, em todo e qualquer lugar, para não
deixar dúvidas: cintura alta, peças metalizadas
e drapeadas, macaquinhos e calças legging estão
na moda. Está na moda também matar a ex-namorada.
Um dia foi o cidadão que, após cometer o crime,
se matou, numa aparente demonstração de arrependimento,
no prédio da faculdade onde eu estudei. Outro dia
foi o outro que apunhalou a ex com uma facada no coração,
aqui na rua da minha casa. Teve ainda aquele que matou a
ex-namorada sob a alegação bizarra de que
estava apenas cumprido regras de um jogo de
RPG.
No último mês
este foi, sem dúvida, o tipo de crime que desfilou
com mais freqüência pelas páginas policiais
dos jornais de Minas, indicando a tendência da vez.
Há pouco tempo o que bombava mesmo era abandonar
bebês recém-nascidos. A primeira lançou
a moda e as outras inovaram: lagoa, esgoto, rio, lixão.
Crueldade para todos os gostos. E quando Suzane despontou
no mundo do crime? Não deu outra. Foi questão
de (pouquíssimo) tempo até surgirem outros
casos de patricídio Brasil afora. Já o seqüestro,
em sua fórmula tradicional, anda meio démodê,
temos de concordar.
Difícil é compreender
a logística desses casos. A princípio é
bem simples: os criminosos se sentem encorajados a cometer
seus delitos, após verem situações
semelhantes amplamente divulgadas pela mídia. Mas,
em se tratando de Brasil, é mais fácil acreditar
que todos os tipos de violência continuam a acontecer
a todo momento (assim como as calças legging não
deixaram de existir dos anos 80 para cá). Só
que, se um vem à tona, torna-se oportuno para os
veículos de comunicação falar dos outros
também.
No fim das contas, a logística
não tem a menor importância. Fato é
que tudo isso continua a acontecer e o absurdo da história
mora na resignação com que nós, sociedade,
aceitamos. Uma louca jogou seu bebê fora.
Ah, outra?. O cara matou a ex-namorada.
Ih, de novo?. Mata-se pessoas com a mesma naturalidade
com que se troca de roupa. E nós aceitamos calados,
sem exigir punições severas. Afinal, talvez
seja só a moda da vez. E, como toda moda, talvez
passe. E se não passar também, não
tem problema. Desde que não aconteça na minha
casa. É tudo uma questão de costume, não
é mesmo?
Aliás, se tem uma coisa
que brasileiro sabe fazer bem é se acostumar. Corrupção
e tráfico de drogas? Estamos acostumadíssimos.
Estes, por sinal, são como o jeans e o pretinho básico.
Não saem de moda nunca.
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Fernanda é mais uma
daquelas que fez faculdade de jornalismo porque gosta de
escrever. Então escreve. Muitas vezes, para dizer
o que pensa. Menos vezes do que gostaria, por dinheiro.
Suas palavras estão por aí. Mensalmente na
Revista da Leitura, quinzenalmente aqui no site. A qualquer
momento, em seu blog (www.blogdaferdi.blogspot.com).
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