OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     
Seja pelas iniciais romanticamente gravadas na madeira, seja pelas frutas com gosto de infância, seja pela casa na árvore que todo mundo sonhou em ter (mas quase ninguém teve) ou pelas suas raízes que, simbolicamente, prendem a nós mesmos a algum lugar no tempo ou no espaço.
 

17/09/07
Já abraçou uma árvore hoje?

Eu era muito criança, mas ainda me lembro da sensação de acolhimento e conforto que tomava conta de mim ao dobrar a esquina da minha rua e avistar, de longe, o enorme pé de eucalipto, o membro mais nobre de toda a vizinhança. Ele era querido por mim, e por todas as outras crianças que moravam por ali. Ao menos foi o que ficou evidente quando todas nós, aos prantos, nos despedimos da formosa árvore que teve de ser derrubado por conta de uma dessas exigências de prefeitura, que a gente não entende bem quando somos pequenos (nem quando somos adultos).

A árvore se foi e o que me restou foi uma lembrança que ficou muito bem guardada. Tanto que acho que se perdeu em alguma mata fechada da minha memória e eu só a resgatei há poucos dias, quando um amigo me contou que teria de se desfazer dos eucaliptos do seu quintal. No ato, me recordei do meu eucalipto vizinho e, por conseqüência, do meu pé de pinha.

O pé de pinha era meu mesmo. Plantado na horta do meu pai era, por alguns, chamado de pé de fruta-do-conde. Mas na família Pinho, era o pé de pinha e pronto. Era uma árvore de altura mediana e galhos magricelos, que não suportavam nem o peso de uma menina de oito anos (coisa que eu constatei de modo não muito agradável, vocês podem imaginar). Mas tinha folhas com o verde mais verde que já me lembro de ter visto e dava frutas maravilhosas, graúdas e doces. Tão doces que às vezes já vinham com formiga e tudo. Nada que uma lavadinha não resolvesse.

Gostei de ter resgatado essas minhas lembranças. Eu, que às vezes sou vista com estranheza por ter sido uma criança que não teve cachorro, digo agora, com orgulho: não tive um cachorro, mas tive uma árvore.

Tem gente que não faz idéia de como pode ser forte os laços afetivos que criamos com as amigas vegetais. Um exemplo disso foi um caso narrado pelo mesmo amigo, na mesma conversa arbórea. Em sua casa - aquela onde estão os eucaliptos que serão derrubados - há um lindo manacá e, com ele, uma linda história. Antes de ir parar ali, a arvorezinha, com suas flores coloridas e simpáticas, foi membro, durante anos, de outra família (família de gente, não de árvore). Só que ela também teve de ser retirada, para dar lugar a alguma obra de concreto que, duvido, que fosse colorida ou simpática. Mas, para sorte do dono do manacá, que desesperou-se com a possibilidade de perdê-lo para sempre, meu amigo se ofereceu para plantá-la em sua casa e lá está ela até hoje. Firme e forte.

O fato é que, além da importância óbvia das árvores para a humanidade (sim, estou me referindo ao meio ambiente e àquela história de que se cada um plantasse uma árvore hoje faria um bem danado para o planeta) as árvores podem ser o registro de uma vida. Seja pelas iniciais romanticamente gravadas na madeira, seja pelas frutas com gosto de infância, seja pela casa na árvore que todo mundo sonhou em ter (mas quase ninguém teve) ou pelas suas raízes que, simbolicamente, prendem a nós mesmos a algum lugar no tempo ou no espaço.

É, gosto demais de árvores, especialmente agora que, com a chegada da primavera elas se enchem de flores. Dá vontade de abraçá-las. Parece loucura? Experimento fazê-lo. Não tem motivo para isso? Tudo bem, dia 21 de setembro, sexta-feira, é o Dia da Árvore. Não tem mais desculpa. Você vai gostar e, quem sabe, fica como eu. Com vontade de plantar uma árvore, ter filhos para criar num ambiente cheio de árvores e escrever um livro. Sobre árvores, naturalmente.


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Fernanda é jornalista, pós-graduanda em Gestão em Comunicação Corporativa. Trabalha como assessora de imprensa e ainda não sabe ao certo o que quer fazer da vida. Certeza, só uma: gosta desse negócio de escrever. "Tem que ter porquê?".
E-mail: ferdipinho@gmail.com



   
 

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