OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     

Todos estão com suas famílias, com seus queridos, com suas esposas, maridos, filhos, papagaios e bichinhos de pelúcia. Nessa hora angustiante, hora de vazio e de solidão, em que a única companhia é o Faustão, ninguém se lembra do amigo ou da amiga de trinta, do solteiro ou da solteira, do divorciado ou da divorciada!

 

01/01/08
Então é Natal

Ñ When I was young
I never needed anyone
And making love was just for fun
Those days are gone
Livin' alone
I think of all the friends I've known
When I dial the telephone
Nobody's home


¯
All by myself
Don't wanna be
All by myself
Anymore Î

Vou descrever o cenário: uma sala escura com sofá de três lugares, um tapete peludo em tom pastel sob uma mesa de centro cheia de restos de batata frita. Latas de refrigerantes light vazias e amassadas, copos com marcas de batom, papéis de bala e de bombom espalhados pelo tapete, uma TV 29 polegadas, de plasma, pendurada da parede pintada em bege e lá, no sofá azul escuro com bolinhas brancas... Apenas uma pessoa.

Ela segura um pote de sorvete de chocolate da Häagen-Dazs, está de pijama de algodão, meias da turma da Mônica e cabelo notoriamente desgrenhado. Ela: uma mulher solitária, em noite de natal!

Não riam! Não se trata da descrição de O Diário de Bridget Jones em sua cena inicial. Isso está mais para a descrição do Natal e do fim de ano de muitas pessoas solitárias, que não entendem e nem curtem essa alegria artificial e desagradável das festas de fim de ano. Na verdade, vocês já perceberam o quanto esse tempo de festas natalinas e de final de ano é opressor?

As pessoas sorriem o tempo todo, são cordiais, amigas e positivas. Como assim?

O Globo Repórter veicula matérias com brasileiros bons e caridosos que “não desistem nunca” e que fazem doações de comida, de roupa, de brinquedos e de tudo o que todas as pessoas deveriam ter o ano todo, no mínimo, para uma sobrevivência digna.

Os canais de televisão exibem shows com artistas felizes e cantantes, especiais de Natal, filmes como Esqueceram de mim e Um natal muito, muito louco quase que sem parar. E os amigos secretos, então???? Que coisa débil! Os “colegas” de escritório que se odeiam, que passam o ano todo arquitetando estratégias para puxar o tapete do outro, de repente se beijando, se abraçando, chorando, assim: unidos, cúmplices, companheiros de categoria. É muita depressão!

Ninguém para tomar cerveja! Ninguém para bater papo no boteco! Ninguém de ninguém. Todos estão com suas famílias, com seus queridos, com suas esposas, maridos, filhos, papagaios e bichinhos de pelúcia. Nessa hora angustiante, hora de vazio e de solidão, em que a única companhia é o Faustão, ninguém se lembra do amigo ou da amiga de trinta, do solteiro ou da solteira, do divorciado ou da divorciada! Não adianta ligar para os números de telefone da agenda. De A a Z estão todos ocupados ou viajando. Nada de amigos, nem mesmo inimigos. O telefone não toca, estão todos cordialmente festejando o ano que se esvai.

A mulher solitária no sofá se aninha, ergue uma taça de vinho e canta com voz impostada, imitando Simone: “Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez”.



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Elisa Rodrigues é de Osasco (SP). É da década de 70, do tempo da "Disco", do início das músicas "dancing", das cores fortes e vibrantes. É claro que ela não viveu essa época! Digamos que estava ensaiando os primeiros passos. Mas por causa das mulheres dessa década e de algumas décadas anteriores, ela e suas amigas, aos trinta, estão vivendo coisas que nossas mães, avós, bisavós e sei lá mais quem... nunca pensaram viver, sonhar, decidir, fazer e... surtar! É teóloga, cientista da religião (doutorada) e enamorada da antropologia. Estuda e escreve sobre História Social do Cristianismo (I século) e Tradições religiosas no Brasil. Possui artigos publicados em periódicos especializados em e um ou dois livros. Mas queria mesmo era ser cantora de barzinho.


   
 

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