
31/10/07
A psicanálise e
seu ponto de vista sobre a constituição dos
sujeitos
Sabe-se que na perspectiva da lingüística, toda
prática humana é uma forma de linguagem e
que esta se manifesta de diversas maneiras, tais como por
palavras, gestos, trocas, toques etc. Cada civilização
cria um tipo de linguagem própria relacionada à
época em que vive. A linguagem é portanto,
uma cadeia de sons articulados, que representa aquilo que
o sujeito sente ou pensa. Podemos dizer que há uma
simultaneidade entre linguagem e pensamento.
No campo da comunicação,
é necessário que haja pelo menos duas pessoas
envolvidas. O ato de falar revela um pouco sobre a história
do sujeito, tanto do que diz, quanto o do que recebe.
A linguagem aparece em forma
linear e segue um eixo diacrônico, uma vez que se
desenvolve no tempo. E um sincrônico, uma vez que
se mostra de forma estruturada, e obedecem a regras precisas,
chamadas gramaticais, para que possa acontecer. O discurso
nada mais é que tornar particular aquilo que é
universal e anônimo.
Quando nascemos, entramos em
uma estrutura pré-existente a nós. Em termos
psicanalíticos, a estrutura do sujeito é uma
estrutura de linguagem. Para Lacan, o significante é
pré-existente ao sujeito, e o significado da fala
do mesmo está diretamente relacionado à relação
de oposição de um significante ao outro.
A escuta analítica está
portanto, em estabelecer uma relação entre
os significantes que o sujeito faz, assim como o próprio
efeito que dá a sua fala. Não compete ao psicanalista,
dar significado às coisas que ele diz.
Para Lacan, há uma predominância do significante
em relação ao significado e as propriedades
destes significantes estruturam o inconsciente, já
que este, é o lugar psíquico, onde se situa
o grande Outro. Para ele, o inconsciente não está
nem dentro e nem fora do sujeito, está mesclado.
O inconsciente de Lacan, é o discurso do Outro, porém,
não se mostra fechado, uma vez que nem o inconsciente,
nem o grande Outro, são feitos só de significantes.
Há um resto inassimilável,
uma falha na tradução, nomeado por Lacan como
objeto, que não passa pela significação.
É a partir do simbólico, ou seja, a partir
da vivência do Complexo de Édipo e a posição
do sujeito diante deste, é que podemos verificar
um diagnóstico.
Em seus estudos, Lacan, elabora
o conceito de metáfora paterna, articulando o Complexo
de Édipo com a Castração, tratando
este processo como estrutural do sujeito e, utilizando o
conceito de significante do nome do pai, não sendo
necessariamente este, o pai real. Utiliza-se o nome do pai
enquanto metáfora, uma vez que ele é um significante
que opera uma mudança, ou seja, uma substituição
no significante do desejo da mãe, produzindo uma
nova significação.
No Estádio do Espelho,
a criança está completamente alienada à
mãe. Este período, é fundamental na
formação do eu e no conhecimento que a criança
desenvolve acerca de seu próprio corpo, que até
então, encontra-se esfacelado. O investimento libidinal
da mãe para a criança, cria nesta, uma nova
imagem do seu corpo. Esta imagem organiza a partir daí,
suas pulsões.
O Estádio do Espelho
é localizado em três tempos lógicos
fundamentais e é condição essencial
para que o Édipo se realize. Em um primeiro momento,
há uma confusão entre o corpo da criança
e do Outro (grande desorganização pulsional);
logo após, faz distinção entre o que
é eu e o não-eu e finalmente, a criança
reconhece a imagem vinda do Outro e identifica-se com ela.
O corpo então, se organiza.
Quando o sujeito se identifica
à imagem, se identifica como sendo desejo do Outro.
Esta imagem narcísica, é o que importa para
que ele se reconheça enquanto sujeito. É a
mãe que resignifica o choro do bebê, dando
a ele uma posição de desejo, aliviando seu
desconforto. Quando um bebê nasce, ele é apenas
um organismo com necessidades fisiológicas. Quando
este organismo se depara com o significante, passa a ser
um corpo real, dotado de desejo.
Ao sair da fase do espelho, a criança passa a ter
a posição de sujeito e se identifica ao que
ela julga faltar à mãe. Em um determinado
momento, o significante do Nome-do-Pai questiona o desejo
da mãe, colocando-a como desejante de outras coisas,
além do filho, posicionando-se como um operador de
castração e criando um passo estruturante
na constituição do sujeito.
A criança entra no segundo momento do Édipo,
considerando o pai como um intruso, questionando ser ou
não o falo da mãe, considerando-o como um
ser que priva, frustra, interdita e impede. O pai priva
a mãe do investimento psíquico sobre a criança
e se mostra como tendo direito sobre a mãe, impondo-se
como rival e tirano para a criança.
A criança interpela
a questão do desejo do Outro, deslocando de ser ou
não o falo para perguntar-se por quem tem o falo
da mãe. Na medida em que a criança questiona
sobre quem é o "dono" do falo, isto recai
sobre ela. Neste momento, ocorre a metáfora paterna,
onde o corte que ocorre na mãe, recai sobre a criança
em forma de castração.
O pai é o simbólico
que castra, inaugurando a alienação do sujeito
na palavra. O desejo de ser, recalcado, o faz buscar (ter),
inserindo-o no mundo de significantes, no jogo substitutivo
das significações, tornando-se um ser desejante.
O Nome-do-Pai, portanto, é um ponto de basta inaugural
que dá o significado do sujeito, é o significante
que, por excelência, permite ao sujeito situar-se
na ordem simbólica e na partilha dos sexos, como
homem e mulher.
É, é dependendo da maneira pela qual o sujeito
lida com o Édipo, que surgem as estruturas: neurótica,
onde o Édipo é recalcado e o desejo da mãe
permanece no inconsciente, fazendo com que o sujeito busque
alcançá-lo por toda sua vida; forclusão,
onde a castração não se opera e portanto
o sujeito não internaliza a lei e não subjetiva
o Édipo e, negação (desmentido), onde
o sujeito nega e afirma concomitantemente a castração.
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Eduardo
Lacerda é psicólogo clínico,
pós-graduando em psicanálise pela PUC Minas,
interessado no estudo dos sintomas contemporâneos,
um curioso que busca entender as implicações
do inconsciente na vida singular dos indivíduos pós-modernos.
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