
28/11/07
PSICOSSOMÁTICA: a dor que esvai pelo corpo
A existência de dois mundos, subjetivo e objetivo, divide o ser humano em interno e externo. Essa divisão do 'eu' mais 'mundo externo' nem sempre se encontra em harmonia, o que pode vir a proporcionar um desequilíbrio relacional entre os dois. Esse desequilíbrio relacional é provocado pela forma como se internalizam as emoções, ou seja, como as pessoas reagem à comunicação afetiva entre o eu e o(s) outro(s).
No corpo humano verifica-se que ele apresenta sistemas e órgãos ocos, como o urinário, genital, respiratório, digestivo (e sua complexidade) etc. Os homens e mulheres irão corresponder afetivamente a cada sistema de forma diferente, isso dependerá da cultura, crenças; meio ambiente físico, social, dentre outros fatores.
No entanto, observa-se que existem tanto sistemas que funcionam no sentido do eu saindo para o mundo quanto sistemas que funcionam ao contrário o mundo entrando no eu. No primeiro caso, estão os órgãos sexuais masculinos, o sistema urinário, o intestino (reto). No segundo caso, estão os orgãos sexuais femininos, o sistema respiratório, o estômago. As mulheres acabam sendo mais propícias a sofrer somatizações na região dos genitais quando são penetradas sexualmente sem carinho, sem uma relação afetiva apropriada com seu(s) parceiro(s). Porém, os homens acabam sendo mais propícios a sofrer somatizações no aparelho digestivo quando são obrigados a comer um prato sem tempero ou jogado à sua frente com um gesto de desprezo ou má vontade; quando bebem para esquecer as amarguras da vida onde o afeto negativo acaba estando presente a cada golada.
A realidade externa (objetiva) é feita de objetos reais, palpáveis, e a realidade interna (subjetiva) é feita também de “objetos”, os quais são representações, figuras, imagens, símbolos da realidade externa. A cada representação externa existe uma representação interna, o interno (psiquismo) pode criar símbolos novos a fim de manifestar para o externo. Dor, com ou sem lesão tecidual, pode ser usada pelo psiquismo inconsciente, com a finalidade simbólica de expressar uma mensagem para o mundo em geral, ou para alguém em especial. Isto significa que a dor pode querer dizer algo, pode ter um significado.
A dor usada na função de linguagem do inconsciente é uma forma de comunicação que “custa caro” em termos de quantidade e sofrimento. Quando o paciente/sujeito apresenta recursos simbólicos (linguagem consciente) para nomear a sua dor, a dor no corpo não será mais necessária para a função de comunicação, que agora pode ser usada através da linguagem que lhe custa “mais barato” (linguagem verbal) do que a outra (linguagem corporal). Tal substituição de linguagens seria simples se caso não existisse, algo chamado resistência do inconsciente, a fim de não permitir a chegada à consciência da mensagem expressada pelo sintoma dor.
E por que haveria uma resistência do inconsciente contra a conscientização dessa mensagem? Porque tal mensagem trata de um conflito interno. A dor que expressa o conflito dói no corpo, não na mente! Se houver a conscientização do conflito, provavelmente a dor no corpo desaparecerá, mas enfrentar conscientemente a situação conflitiva poderá ser mais penoso que a dor corporal. Por isso, há resistência do inconsciente contra a conscientização.
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Eduardo
Lacerda é psicólogo clínico,
pós-graduando em psicanálise pela PUC Minas,
interessado no estudo dos sintomas contemporâneos,
um curioso que busca entender as implicações
do inconsciente na vida singular dos indivíduos pós-modernos.
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