
19/12/07
Os sonhos segundo os princípios de Freud
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”, escreveu Freud em sua obra-prima: A Interpretação dos Sonhos (1898/1899). Para Freud, a essência do sonho é a realização de um desejo infantil recalcado. E foi a partir desse princípio que elaborou as bases do método psicanalítico.
O que seriam os sonhos então? Os sonhos mostram uma clara preferência pelas impressões dos dias imediatamente anteriores. Tem a sua disposição as impressões mais primitivas da nossa infância e até fazem surgir detalhes desse período da nossa vida que, mais uma vez, parecem-nos triviais e que, em nosso estado de vigília, acreditamos terem caído no esquecimento há muito tempo. Os sonhos são restos das imagens ou afetos presentificados nos dias anteriores juntamente com os resquícios das vivências infantis. No entanto, os sonhos nunca dizem respeito a trivialidades, ou seja, o nosso sono nunca é perturbado por tolices. Os sonhos aparentemente inocentes revelam ser justamente o inverso quando damos ao trabalho de analisá-los caso a caso.
Sabe-se que o sonho segundo Freud, mesmo que desprazeroso, é uma realização (disfarçada) de um desejo (suprimido ou recalcado). O sonho é a manifestação de resíduos adormecidos, inibidos ou censurados por alguma razão e que tem sempre um motivo intencional a ser desvelado. Esta elaboração onírica busca realizar-se ou, pelo menos, tenta realizar-se de forma dissimulada em muitas das vezes. Assim, podemos pensar que os sonhos revelam a verdadeira natureza do homem, embora não toda a sua natureza, e constituem um meio de tornar o interior oculto da mente acessível ao nosso conhecimento.
Durante o sono, tomamos as imagens oníricas por imagens reais graças ao nosso hábito mental (que não pode ser adormecido) de supor a existência de um caráter externo com o qual estabelecemos um embate com o nosso Ego. Desta forma, a interpretação dos sonhos revela, sobretudo, os conteúdos mentais, pensamentos, dados e experiências que foram recalcadas, excluídos da consciência pelas atividades de defesa do Ego e Superego e enviadas para o inconsciente aonde também se encontra as reservadas do Id regido pelo “princípio de prazer”, reservatório das pulsões.
Os sonhos das crianças pequenas são freqüentemente pura realização de desejos e são, nesse caso, muito desinteressantes se comparados com os sonhos dos adultos. Não levantam problemas para serem solucionados, mas, por outro lado, é de inestimável importância para provar que, em sua natureza essencial, os sonhos representam realizações de desejos. É possível que os sonhos aflitivos e sonhos de angústia nos adultos, uma vez interpretados, revelem-se como realizações de desejos.
Os sonhos de angústia, presente mais nos adultos, seriam uma subespécie particular dos sonhos de conteúdo aflitivo. A angústia neurótica se origina da vida sexual e corresponde à libido que se desviou de sua finalidade e não encontrou aplicação. Os sonhos de angústia são sonhos de conteúdo sexual cuja respectiva libido se transformou em angústia. Um desejo recalcado encontrou um meio de fugir à censura e a distorção que ela mesma também implica. O resultado invariável disso é que se experimentam sentimentos dolorosos no sonho. Da mesma forma, os sonhos de angústia só ocorrem quando a censura é total ou parcialmente subjugada e, por outro lado, a subjugação da censura é facilitada nos casos em que a angústia já foi produzida como uma sensação imediata decorrente de fontes somáticas. Com isso, podemos ver claramente a finalidade para qual a censura exerce sua função e promove a distorção dos sonhos: ela o faz para impedir a produção de angústia ou de outras formas de afeto aflitivo.
Contudo, o sonho é uma defesa do sono, a isso pode acrescentar-se que o sonho aberto, essa história visual que se vive de noite e se conta de dia, é a oportunidade para sair de um sonho, da surda corrente subterrânea dos temas de que o sonho se trata, cuja lógica preside ocultamente a vigília, até que se possa manifestar num episódio constituído, ganhando estatuto de consciência. Segundo Freud, não existe nenhum fundamento nos fatos de que os sonhos têm o poder de adivinhar o futuro e nos sonhos não existem sentimentos morais. O sonho apenas visa à realização de um desejo, um temor vivenciado, uma fantasia ou uma lembrança de um tempo atravessado.
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Eduardo
Lacerda é psicólogo clínico,
pós-graduando em psicanálise pela PUC Minas,
interessado no estudo dos sintomas contemporâneos,
um curioso que busca entender as implicações
do inconsciente na vida singular dos indivíduos pós-modernos.
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