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[...] o mestre da solução da dor de existir é o próprio paciente. O paciente é o mestre da situação. É ele que encurta ou estende o seu próprio tratamento; é ele, dentro do seu tempo, que deve achar uma saída para os seus tormentos [...]

 



21/04/08
O silêncio que angustia

Muitas pessoas chegam até a minha pessoa, ao saber que sou psicólogo, e questionam porque muitas vezes o profissional do inconsciente se mantém calado nas sessões, sem sequer falar uma palavra. Dizem que as primeiras consultas acabam sendo insuportáveis, pois o silêncio do especialista chega torná-lo inexistente dentro do consultório. O que se pode ouvir nas primeiras idas e vindas do paciente é a sua voz ecoando numa saleta fechada onde o feedback sobre as suas questões dolorosas é quase nulo. Devido a este suposto abandono que o paciente se julga sofrer, muitos acabam abandonando o tratamento e descrendo da atuação do profissional e, até em alguns casos, da psicologia.

Então, a questão que se pode levantar é: como esclarecer para leigos e para aqueles que frustraram mediante a algum tratamento psicológico sobre o porquê dessa postura silenciosa de certos profissionais dentro do consultório privado?

Primeiramente, cabe mencionar que existem várias formas de tratamentos diversificados dentro da psicologia, quer dizer, existem terapias de diversas ordens, com perspectivas teóricas e filosóficas singulares e que visualizam o cliente de forma específica dentro de cada conceito. Com isso, os benefícios adquiridos nessas terapias podem repercutir efeitos de curto, médio ou longo prazo no cliente dependendo do eixo de trabalho epistemológico do profissional e do seu estilo pessoal de conduzir cada atendimento. Nesse caso, basta os interessados por um tratamento psicológico pesquisar sobre cada tipo de terapia existente e escolher a melhor que se adapta ao seu perfil e necessidades.

Em segundo, respondendo agora a questão levantada, quando se depara com um profissional que silencia nas primeiras sessões, cabe ao cliente entender que o profissional fica nesse lugar de presença-ausência para ouvir a história de quem o procurou; para que o cliente possa falar sobre o que o levou a estar ali, falar dos seus medos, traumas, ansiedades etc. No início, o profissional não sabe de nada a respeito da vida daquele que está ali sofrendo por determinada(s) coisa(s), ele se silencia para começar a perceber o movimento psíquico do paciente e para poder entender o que acabou o levando ao seu sofrimento. Esse silenciar também revela uma forma de respeito ao paciente deixando-o livre para começar a falar por onde ele achar mais conveniente. O paciente deve entender que uma sessão desse tipo é uma oportunidade dele se ouvir, dele mesmo interrogar sobre suas mazelas e achar assim uma saída para aquilo que o deixa infeliz. Se o psicólogo acaba interrompendo a cadeia discursiva de um paciente logo nas primeiras sessões sem conhecê-lo profundamente, ele pode induzi-lo a uma interpretação errada da sua vida. E, outro detalhe, deve-se ter em mente que não é em um dia, em uma semana ou em um mês que o paciente numa sessão de quarenta e cinco minutos vai esboçar toda a sua vida: medos, fracassos, perdas, vitórias, alegrias etc. É bom esclarecer que muitas coisas se tornam inacessíveis a consciência, nem tudo se consegue falar na hora que a oportunidade é cabível. Este modo de terapia passa a ser considerada assim um processo, muitas vezes repercutindo um efeito em rumo à cura a médio ou longo prazo. Cabe ao profissional, no decorrer das sessões, num tempo futuro, ir direcionando a fala do paciente para que ele possa refletir sobre a sua maneira de pensar e levar a vida. Ou seja, o silêncio do profissional não é eterno, uma hora ele terá que se presentificar, às vezes, pontuando uma determinada fala isolada, em outro momento, interrompendo a sessão de forma incisiva para provocar uma reação favorável ao tratamento, de vez enquando, interpretando fatos ditos em sessões diferentes para propiciar uma reflexão que irá viabilizar um sentido a história do paciente etc.

Porém, muitos que deparam com este estilo de terapia, se angustiam porque querem uma resposta pronta para os seus problemas como se o profissional fosse um guru. Pediria a estes indivíduos aflitos que tenham paciência ou compreendam que, durante uma sessão, quem é o mestre da solução da dor de existir é o próprio paciente. O paciente é o mestre da situação. É ele que encurta ou estende o seu próprio tratamento; é ele, dentro do seu tempo, que deve achar uma saída para os seus tormentos. O psicólogo é um coadjuvante, aparece só quando realmente há necessidade, mas ele não deixa de intervir. Ele em algum momento intervém na história do paciente na tentativa de ajudá-lo a dar sentido ao que escapa do sentido. Assim, o paciente vai montando o seu quebra-cabeça reorganizando a sua vida tornando-a menos agoniada, sofrida, conflituosa. Agora, se mesmo desta forma, houver insatisfação, angústia, com a postura desse tipo de psicólogo “silencioso”, cabe ao insatisfeito procurar uma terapia que encaixe melhor ao seu perfil, como foi dito anteriormente. A questão sábia que se deve deixar exposta aqui é que quem precisa ou acha que precisa de apoio psicológico, nunca desista de procurar um especialista para ouvir suas lamúrias, mesmo que sejam ínfimas. E se caso um tratamento com um determinado especialista não vier a dar certo, não quer dizer que com todos não irá dar. Persista, procure, pois no final o que vale é dormir e acordar com a mente livre, leve e solta de amarras neuróticas que não levarão a lugar algum. Por fim, dê a oportunidade de sentir a felicidade, não se esquive, encare e viva!

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Eduardo Lacerda é psicólogo clínico, pós-graduando em psicanálise pela PUC Minas, interessado no estudo dos sintomas contemporâneos, um curioso que busca entender as implicações do inconsciente na vida singular dos indivíduos pós-modernos. Visite o blog: www.polemicacomsaber.blogspot.com Fale com ele: lacerda_eduardo@yahoo.com.br

   
 

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