
05/10/07
O caso do Álbum Branco
Existem dois tipos padrão
de fã dos Beatles. O primeiro é aquele que
gosta das silly love songs do início da carreira
dos Fab Four, como She Loves You, I Wanna Hold Your Hand
e Eight Days A Week. O segundo prefere os discos psicodélicos,
regados a LSD e experimentações, ou melhor,
a fase pós-Revolver (LP lançado em 1966),
que teve seu início no ano de 1966 e acompanhou a
banda até o túmulo, em 1970.
Coincidentemente, minha mãe
se encaixa perfeitamente no perfil do primeiro tipo de fã,
e eu, por minha vez, no segundo. Não que eu não
goste da banda antes de 66, aliás, gosto e muito.
Minha introdução ao som dos Beatles, bem que
se diga, se deu pelo disco 1962-1966, que contém
exatamente o supra-sumo das já citadas canções
de amor bobinhas.
O fato é que com a
popularização dos cds em meados da década
de 1990, várias coletâneas duplas da banda
foram lançadas neste formato, e foi exatamente a
partir daí que começou meu interesse pela
fase psicodélica. Não que elas contivessem
muito material dessa fase, pelo contrario. O grosso era
composto por canções pré-66.
Porém, num dia inspirado,
meu pai fez o favor de confundir o disco The Beatles,
(de 1968 e também duplo), mais conhecido como The
White Album, ou Álbum Branco no Brasil, com uma coletânea
qualquer da banda. Também pudera, um disco duplo
que tem na capa apenas o nome The Beatles impresso
tinha tudo para ser uma seleção de hits.
O que ele não sabia
é que aquele mesmo cd, comprado com o intuito de
presentear minha mãe em seu aniversário, acabaria
sendo desprezado por ela e deixado num canto qualquer da
casa, acumulando poeira e traças, para num futuro
próximo ser descoberto por mim.
Comecei desconfiado, afinal,
a única música que não me era estranha
era: While My Guitar Gently Weeps, rock com R maiúsculo
de George Harrison, com direito a um dos melhores solos
de guitarra de todos os tempos, presente de Eric Clapton.
As outras 29 músicas
foram descendo aos poucos e logo tomei consciência
do quão especial era aquele registro. Não
há outro que represente tão bem a diversidade
e o talento contido naquelas quatro mentes iluminadas. Tem
lugar pra tudo nos 93 minutos e 43 segundos da bolacha:
rocks vigorosos (Helter Skelter, Everybodys Got Something
To Hide Except Me And My Monkey), épicos (Rocky Raccoon)
mudanças de andamento perfeitas (Happiness Is a Warm
Gun) doces baladas de piano à lá Paul (Honey
Pie), loucuras à lá John (Wild Honey Pie)
e, quem diria, até uma genuína representante
da primeira fase da banda (I Will). Depois vieram: Revolver,
Sgt. Peppers, Abbey Road, igualmente sensacionais, mas para
mim o Álbum Branco continua sendo a obra mais colorida
dos 4 de Liverpool. Minha querida mãe que me desculpe.
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Daniel
Perugini é belo-horizontino e jornalista.
Apaixonado por música, cinema e literatura. Compõe
por diversão. Escreve aqui quinzenalmente às
quintas feiras. Fale com ele: nielbianconcini@hotmail.com
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