
24/08/07
O Vizinho do Bruxo
Mal foi lançado o último capítulo da
saga literária de maior sucesso do novo milênio:
Harry Potter and the Deathly Hallows, sétimo
volume da série, e as especulações
sobre as futuras investidas literárias da escritora
J.K. Rowling já pipocam através da mídia.
No último domingo (19) o jornal inglês “The
Sunday Times” publicou que a autora dos livros sobre
o bruxo adolescente estaria trabalhando em um romance policial
ambientando na cidade de Edimburgo, Escócia.
Porém, o mais curioso é como esse fato veio
à tona para logo depois ser desmentido. Segundo a
publicação inglesa, o vizinho da escritora,
Ian Rankin, declarou em um festival literário na
capital escocesa que sua mulher teria visto Rowling escrevendo
tal livro. No dia seguinte o mal entendido já era
esclarecido por outro diário inglês, o “The
Guardian”. Parece que o vizinho de Rowling (esse sim
um escritor de romances policiais) resolveu pregar uma peça
nos fãs do bruxinho, já que ele mesmo afirmou
se tratar de uma piada.
Pois bem, fico pensando o que teria motivado este cidadão
a promover uma brincadeira tão sem graça.
Não falo como fã da série, que acompanha
desde que o primeiro livro foi traduzido e lançado
por aqui, mas em primeiro lugar como curioso. Uma vez romancista
policial, deve ter sido um deleite para Rankin imaginar
Rowling destilando sua fértil imaginação
ao longo de páginas repletas de sangue e assassinatos.
Não que isso não esteja presente nos livros
da saga de Harry. Aliás, em Deathly Hallows, o sangue
espirra a cada página virada (ops, isso foi um spoiler?).
O fato é que vários fãs mais crescidinhos,
provavelmente como nosso amigo vizinho, gostariam de ler
Rowling para adultos. Não seria o máximo apreciar
a escritora sem se preocupar em esconder a capa dos olhares
maldosos com aquele envelope oportuno? Quem nunca flagrou
um quarentão lendo as aventuras de Harry e ouviu
a clássica desculpa: “é do meu filho,
só estou passando o olho.”?
A criança dentro de Rankin falou mais alto que seu
bom senso, mas não o culpo. Ser vizinho de Rowling
deve ser mesmo algo perturbador. Imagine você acordar
todo dia e saber que as respostas para todos os mistérios
levantados ao longo da série se encontravam a apenas
poucos metros de distância? Não deve ter sido
fácil para ele superar a tentação de
revistar a casa da escritora em busca de pistas e evidências,
ou até mesmo fazer aquela perguntinha estratégica:
“Bom dia, e aí, matou mais alguém hoje?”.
Seria o sonho de qualquer “pottermaníaco”.
Para as crianças e adolescentes já saudosos
e que não têm a sorte de morar ao lado de sua
escritora favorita, recomendo o documentário “Harry
Potter and Me”, produzido para a televisão,
mas que está circulando pela internet nos sites de
vídeos. Nada melhor para conhecer um pouco da vida
de Rowling e saber como ela criou os personagens e os enredos
dos livros do que este completíssimo programa que
foi exibido em 2001 pelo canal A&E.
Para nossos queridos vizinhos e pais, senhores e senhoras
que aprenderam a gostar da saga, fica um ensinamento aprendido
com Rankin. Se quiser ler um romance policial fique com
a boa e velha Agatha Christie e não exija de Rowling
nada além do que ela sabe fazer de melhor, que é
escrever fantasia. Pelo menos por enquanto.
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Daniel
Perugini é belo-horizontino e jornalista.
Apaixonado por música, cinema e literatura. Compõe
por diversão. Escreve aqui quinzenalmente as quintas
feiras. Fale com ele: nielbianconcini@hotmail.com
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