
05/03/07
A velha e a moça
Ando
devagar para não forçar o joelho já
desgastado. No consultório, o médico sentenciou:
o seu caso é sedentarismo. Mas veja como
é complicado, na minha idade, praticar algum tipo
de atividade física, meu filho...
Para
as dores no ombro, provocadas pela bolsa sempre tão
cheia de remédios, casaquinho, sombrinha e outras
tantas coisinhas que carrego sempre comigo, ele receitou
um remedinho bom. A dor passou na hora! Mas segui marcando
as minhas consultas, pois gosto de acompanhar de perto os
lançamentos da indústria farmacêutica
para as articulações, sinusite, rinite alérgica,
bronquite e todos os males provocados por essa vida doida
que levamos hoje.
Porque
no meu tempo, filho, a cidade não era poluída
assim não e, ao pegar a condução, os
jovens cediam o lugar aos mais velhos. Hoje não,
eles parecem não perceber o meu cansaço, nem
se oferecem para levar o livro que sempre tenho em mãos.
Essa juventude anda com a cabeça nas nuvens! O que
eu gosto mesmo é de passear de carro com os parentes,
pois conforto maior não há!
Mas
o médico insiste que eu preciso andar... E lá
no hospital, onde já conheço todo mundo, eles
concordaram. Disseram que é bom para essas dores
que eu sinto nas costas e nos ombros. Não entendem
que tudo isso é cansaço e que, na minha idade,
é uma canseira da vida. De todo o peso carregado
nos ombros por todos esses anos, filho...
O
farmacêutico me convenceu que esse remedinho vai me
fazer dormir melhor, além de ativar a circulação.
Assim, a queimação nas pernas não vai
mais me incomodar à noite. Quase todo o meu suado
dinheirinho fica lá na farmácia mesmo... Tudo
para chegar ao alto dos meus vinte e quatro anos parecendo
um pouquinho mais jovem!
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Cristina Mereu
é formada em jornalismo pelo
Uni-BH, adora internet, cinema, fotografia, música
e literatura. E escreve mensalmente para a coluna Trejeitos.
E-mai: cristinamereu@gmail.com
Sobre a coluna Trejeitos
Cada qual do seu jeito, cada um com seu trejeito. O que
não muda é o amor à profissão
e a vontade de registrar em palavras o que não pode
ser esquecido: a capacidade de falar por aquele que cala,
a crítica, o bom jornalismo, a denúncia, os
vários ângulos, as diversas histórias,
o lirismo.
Nesta coluna, o leitor encontra
crônicas escritas sob a ótica de três
diferentes estilos. Os jornalistas Ariadne Lima, Cristina
Mereu e Guilherme Amorim escrevem sobre temas variados a
cada semana, partilhando com o público, cada um,
um jeito diferente de enxergar a vida.
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