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Uma conduta tão bonita quanto o flagrante, mostrado pelo Jornal Nacional dia 26/11, da vereadora Alessandra Alves Pinto, presidente da Câmara de Matozinhos, passeando pela Argentina com verba pública.

 

03/12/07
Pequenas cidades, grandes problemas
(Ou Sobre umbigos e ética)

A pauta era sobre o projeto social que uma grande empresa realiza nas comunidades carentes do Vale do Aço. Um motorista da empresa veio me buscar em casa e, nas quatro horas que me separavam do local, ele foi me falando sobre a região e também sobre o trabalho feito pela equipe do projeto.

Ele me advertiu que era um lugar, além de longe, muito pobre e marginalizado. Contou-me que as empresas da região pagam altíssimos impostos ao município, mas nada é investido por lá: as ruas são de terra, a população vive na maior miséria e não possui serviço de saúde. Enquanto isso, as autoridades locais adquirem grandes propriedades não muito distantes, se tornam fazendeiros e compram carros bacanas. Uma conduta tão bonita quanto o flagrante, mostrado pelo Jornal Nacional em 26/11, da vereadora Alessandra Alves Pinto, presidente da Câmara de Matozinhos (MG), passeando pela Argentina financiada pela verba pública. Após a repercussão de sua postura (ela achou ótimo que o 7º Congresso Sul-Americano de prefeitos, vereadores e assessores, em Buenos Aires, teve sua programação cancelada, pois assim poderia conhecer a Argentina e ainda garantir o seu certificado), ela afirmou que devolveria o dinheiro da inscrição. Mas somente após ser questionada em rede nacional, claro. E, talvez também somente devido à cobertura Global, ela será afastada do cargo.

Lembrei-me imediatamente de uma ex-colega de trabalho que, certa vez, me alertou que a empresa onde trabalhávamos estava errada ao me pagar menos do que a ela, pois desenvolvíamos a mesma função, durante a mesma carga horária, embora inclusive, eu ainda tivesse maior grau de escolaridade que ela. A pedi então que me emprestasse alguns documentos para copiar e assim reunir provas legais que pudessem foder o meu chefe, já que ele estava me fodendo há meses sem eu ao menos ter conhecimento. E foi daí que veio a surpresa: ela se negou a me ajudar. Mesmo tendo a consciência que o safado queria enriquecer às nossas custas, mesmo sabendo que a atitude dele não era legal e ainda se dizendo minha amiga, ela preferiu não se envolver.

Todos os dias alguém perde a chance de fazer a coisa certa e tentar consertar um pouco de tudo que há de errado no mundo, no Brasil, em seu estado, em seu trabalho, em sua comunidade. E é aí que os chefes ficam mais ricos, os governantes mais safados e a ética só acontece quando a câmera não está mais escondida. O que eu fiz? Bati um papo super aberto com o chefe, questionei a postura da empresa, mostrei meu recente conhecimento sobre a lei trabalhista, fingi acreditar nas justificativas infundadas que ele me apresentou e coloquei o rabo entre as pernas porque eu não sou ninguém. (Mas mantive o gravador escondido desde o início porque o que está errado ao meu redor não permanece errado, nem pra mim nem pra você). E que venha a justiça!

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Cristina Mereu é formada em jornalismo pelo Uni-BH, adora internet, cinema, fotografia, música e literatura. E escreve mensalmente para a coluna Trejeitos. Fale com ela: cristinamereu@gmail.com



Sobre a coluna Trejeitos

Cada qual do seu jeito, cada um com seu trejeito. O que não muda é o amor à profissão e a vontade de registrar em palavras o que não pode ser esquecido: a capacidade de falar por aquele que cala, a crítica, o bom jornalismo, a denúncia, os vários ângulos, as diversas histórias, o lirismo.

Nesta coluna, o leitor encontra crônicas escritas sob a ótica de três diferentes estilos. Os jornalistas Ariadne Lima, Cristina Mereu e Guilherme Amorim escrevem sobre temas variados a cada semana, partilhando com o público, cada um, um jeito diferente de enxergar a vida.


   
 

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