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Terça-feira - 15/05//07
Vamos falar de sexo – parte 2

O texto da semana passada introduziu algumas discussões sobre a temática do sexo na atualidade. Assumimos uma concepção de que de que Eros encontra-se no fundamento do mundo e da união entre as pessoas, assim como os gregos o viam. Do mesmo modo, pensamos como a vida moderna e passou a se constituir como um tipo de força motriz que impulsiona os homens, impulsiona a vida pública, impulsiona o comércio.

Se o comércio passou a assumir o sexo como mais um bem de consumo, torna-se oportuno investigar, de modo rápido, quais as dimensões que estão presentes na trajetória do amor e do sexo e pensar, a partir das elaborações de Giddens, como a intimidade sofreu mutações.

Giddens discute o processo de transformação da vida privada, sobretudo no que tange à sua dimensão afetivo-sexual. Apresenta as alterações na vida social ocorrida nos últimos tempos em função da “sexualidade liberada da sua ligação intrínseca com a reprodução”. Assim, é oportuno pensar como a moral sexual civilizada, sustentada por valores vitorianos e puritanos associou diretamente sexo à reprodução e, na atualidade, diante da falta de referências e ideais norteadores, Bento XVI tenta retomar – de modo mais claro que João Paulo II – os valores morais da Igreja, por entender que o mundo contemporâneo se afastou de Deus e, por conseguinte, de uma moralidade cristã, verdadeiro modelo para a sexualidade mundana.

Antony Giddens estuda a revolução sexual do nosso tempo e questiona muitas das interpretações correntes sobre o papel da sexualidade na cultura moderna. Em última instância, é a transformação da intimidade na qual as mulheres exercem o papel mais importante que, para o autor, assegura a possibilidade de uma democratização radical da esfera pessoal. O que Giddens denomina de revolução sexual passa pelos contornos que a subjetividade assumiu em função dessa mudança radical na esfera da sexualidade. Se os amores são nômades, conforme discutido em um texto anterior publicado aqui no site, o sexo assume a dimensão de objeto, mercadoria por assim dizer, uma vez que a “descartabilidade” que a contemporaneidade conotou o mesmo o coloca na posição de mercadoria de prateleira de mercado, uma vez que consumi-lo é muito fácil e rápido.

Se até pouco tempo atrás a “A virgindade antes do casamento, por parte das garotas, era apreciada por ambos os sexos. Poucas garotas revelavam o fato de permitirem a um namorado uma relação sexual completa – e muitas só admitiam que tal coisa acontecesse se estivessem formalmente comprometidas com o rapaz em questão. As garotas mais sexualmente ativas eram depreciadas pelas outras, assim como pelos próprios homens que buscavam ‘se aproveitar’ delas” (p. 19).

No entanto, hoje em dia o que se tem é a virgindade como crime político.

Em função mesmo da lógica de mercado e, ainda, do rompimento com valores que foram substituídos por valores do “imperativo categórico do gozo”, com dia Lacan.

O amor romântico legou ao ocidente uma forma de amor marcada pelo sofrimento e pela inacessibilidade deixou traços profundos na nossa cultura. Mesmo sendo uma cultura em que é o acesso imediato ao objeto é que prevalece, o amor romântico apregoa que a felicidade só pode ser conseguida vivendo um grande amor. Segundo Giddens, “O amor romântico introduziu a idéia de uma narrativa para uma vida individual – fórmula que estendeu radicalmente a reflexidade do amor sublime. Contar uma história é um dos sentidos do ‘romance’, mas esta história tornava-se agora individualizada, inserindo o eu e o outro em uma narrativa pessoal, sem ligação particular com os processos pessoais mais amplos. O início do amor romântico coincidiu mais ou menos com a emergência da novela: a conexão era a forma narrativa recém-descoberta” (p.50).

Desse modo, com elementos provenientes do romantismo, encontramos uma mídia que vai basear-se no amor romântico e, ainda, vai marcar o sexo como um objeto de consumo que garante a satisfação, pois, caso esta não compareça (a satisfação), você pode ter o seu dinheiro de volta.

Se a intimidade foi transformada, os efeitos que vemos é o de um escancaramento da mesma, em que o sexo (veja a vida dos artistas, os flagras na praia, etc) assume a dianteira. Desse modo, fica aí o convite: vamos falar de sexo, mas não de um sexo escancarado na praça, mas de um sexo em que o desejo assumirá a dianteira e, como bom desejo, se mostrará sempre marcado por um tom de mistério...


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Cássio Miranda é psicanalista, doutorando em Letras pela UFMG e escreve todas as terças. E-mail: cassioedu@oi.com.br

 

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