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Terça-feira -08/05//07
VAMOS FALAR DE SEXO

Por que sexo dá tanto o que falar? Por que sexo atrai tanto, gera tantos discursos, tantos saberes, tantos dispositivos? Seria ele uma das forças axiais do mundo, algo que se encontra na base da sustentação do universo, juntamente com Eros, conforme narra as teogonias? Se tomarmos as narrativas clássicas do surgimento do mundo, Eros é uma das forças primordiais, surgida antes mesmo do nascimento dos imortais (que nascem por ele) e do aparecimento dos homens. Isso nos permite dizer que o Eros é o criador dos deuses e dos homens e seu poder se estende a tudo quanto existe.

A perspectiva grega do Eros Platônico é que tanto a amizade como o amor tem a sua origem na necessidade, numa falta. A idéia de Eros formada a partir de um sentimento de insuficiência, desejo do que não se possui, desejo de extensão, de ligação, do outro. Por outro lado, Eros também é completude, é abundância, uma vez que é fruto da cópula entre Pênia - uma espécie de deusa da pobreza - e Poros – uma espécie de deus da plenitude e da suficiência.

Por um caminho semelhante, Aristófanes pensa que o poder de Eros encontra-se no desejo do homem por uma totalidade, de uma completude e que aspira a união pelo todo, para formar UM.

Em um mito da origem dos sexos, que afirma que no princípio podíamos encontrar três sexos, Aristófanes conclui que: 1- O homem não pode existir isolado. Se ele quer ser perfeito e completo, necessita reunificar-se, por isto busca outra pessoa; 2- Eros é o mediador e reconciliador da natureza humana que se encontra dividida, portanto, uma força de união; 3- as formas de amor presentes no mundo funcionam como uma espécie de antecipação de uma união ideal que será realizada em um futuro vindouro.

Com base nestas concepções, de que Eros encontra-se no fundamento do mundo e da união entre as pessoas, vamos falar de sexo, na medida em que o sexo assumiu o lugar de Eros (?) na vida moderna e passou a se constituir como um tipo de força motriz que impulsiona os homens, impulsiona a vida pública, impulsiona o comércio. Desse modo, vamos falar de sexo para pensar que sexo é uma invenção, pelo menos tal como o concebemos hoje e também pensaremos como o discurso do capital transformou em sexo em um objeto de consumo que pode ser contabilizado e entra na ordem do dia da vida cotidiana.

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Cássio Miranda é psicanalista, doutorando em Letras pela UFMG e escreve todas as terças. E-mail: cassioedu@oi.com.br

 

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