
19/02/08
O futuro da civilização
e o pensamento de John Zerzan
Muita gente não viu,
muita gente não foi, muita gente ainda não
sabe quem é Jonh Zerzan, mas sua crítica repercute
em Minas Gerais e no Brasil neste mês de fevereiro
devido sua vinda ao Brasil como palestrante no maior evento
da contra-cultura nacional, o Carnaval Revolução
(ocorrido nos dias 2, 3 e 4 de março, na cidade de
São Paulo).
Para os que nunca viram Zerzan
no documentário Surplus (Surplus: Terrorized Into
Being Consumers, 2003), ele é um filósofo
anarquista norte-americano de quase setenta anos e, atualmente,
um dos grandes críticos do modelo atual de civilização,
além de um expoente do primitivismo. Produziu várias
obras, entre elas o Futuro Primitivo (1994), embasado na
obra de grandes antropólogos e arqueólogos
mundiais. Ficou conhecido nos EUA e Europa após a
onda de manifestações ocorridas em Seattle
(1999) e Praga (2001), quando o mesmo foi acusado de mentor
do bloco negro de tais manifestações - Black
Bloc.
Sua crítica é
aparentemente a mais radical e, num primeiro momento, provoca
uma grande inquietude nos ouvintes. Primitivismo seria,
em linhas gerais, voltarmos as cavernas e abandonarmos todo
nosso conforto e tecnologias empregadas na manutenção
do nosso modo de vida? A resposta adequada seria sim
e não.
Para o autor, não precisamos
de nenhum grande esforço intelectual para elaborar
uma crítica ao modo em que a humanidade tem vivido.
Vivemos como inimigos domesticadores da natureza, produzimos
mais do que podemos consumir e consumimos mais do que precisamos.
Nosso modo de vida tornou-se destrutivo com o surgimento
da agricultura, com a linguagem simbólica e com a
divisão do trabalho e, em seguida, com a cultura
do desenvolvimento e do progresso baseados na industrialização.
Primitivismo então não
seria a volta as cavernas, mas a crítica ao modo
de vida vigente baseado na idéia de um passado muito
distante em que a vida humana era inerente à natureza
e não sobreposta a mesma. Agrupamentos baseados no
sentido de comunidade, sem violência, guerras, competição.
Estes seres viveriam da caça e da coleta de recursos
oferecidos na natureza e não retirados dessa.
Neste sentido, o principal
elo de ligação entre o primitivismo e o anarquismo,
segundo Zerzan, estaria no fato de que o homem é
capaz de se organizar e viver em comunidade sem a presença
do Estado, da igreja ou de qualquer instituição
(o que na minha opinião, é óbvio).
A concepção de que a natureza do homem é
bárbara e violenta e necessita de instituições
como tais é fundamentada na tese hobesiana de que
os homens só podem viver em paz se concordarem em
submeter-se a um poder absoluto e centralizado.
O progresso tem significado
a marcha para o colapso ambiental, dos recursos naturais.
Eu acredito que exista cada vez menos pessoas que
acreditam em progresso, mas provavelmente ainda existam
muitos que entendem o progresso com inevitável. Nós
somos certamente condicionados por todos os lado a aceitar
isso, e somos reféns disso, afirma John Zerzan.
Em sua passagem ao Brasil com
uma palestra proferida na PUC Minas, o filósofo disseminou
o mal-estar em pensar o quanto podemos estar errados na
crença de que o progresso é essencial e vale
qualquer preço. Quanto mais produzimos, mais descartamos
e mais nos matamos. Zerzan pode estar errado na sua teoria
primitivista, mas deixa no ar algumas perguntas perturbadoras:
É isso que queremos? Realmente estamos certos? Até
onde conseguiremos chegar destruindo tudo pela frente?
Principais obras:
Elementos da Rejeição
(1988)
Futuro Primitivo (1994)
Contra a Civilização:
Um Leitor (1998)
Correndo no Vazio (2002).
Site do Autor:
http://www.johnzerzan.net/
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08/01/08
- Na contramão: O escritor esquecido no seu
tempo
2007
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Carlos
Alberto está se graduando em História,
é chefe de cozinha e músico de araque. Especialista
em filosofia de buteco, estratégias sustentáveis
de sobrevivência na cozinha e soluções
subversivas para superar rotinas exaustivas de trabalho.
Fale com ele: veganito126@gmail.com
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