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O que era antes a propaganda do espetáculo se tornou agressivamente a espetacularização da propaganda, onde o receptor é agredido visualmente com milhões de cores, luzes, textos, imagens sedutoras carregadas do discurso “compre a qualquer custo”.

 

18/09/07
Se tudo tem seu lugar, porque a publicidade está em todos?

“O espectáculo não é um conjunto de imagens,
mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens.”

(Guy Debord – A sociedade do espetáculo)

A quantidade de publicidade que absorvemos todos os dias entorpece. Para algumas pessoas, um outdoor na frente do seu prédio, uma empena, uma plaqueta na lata de lixo daquela praça, o anúncio na traseira do ônibus ou o aglomerado de placas quase sobrepostas nas ruas do centro pode passar despercebido. Para outras pessoas, isso tudo é um grande incômodo.

A expressão visual é a maneira mais antiga de se comunicar. Evoluiu das representações nas cavernas; tomou forma comercial na Mesopotâmia, na babilônia e na Grécia antiga, quando já se produziam iconografias relacionadas aos produtos destinados comercializados. Durante toda história da humanidade, esteve presente para diversas finalidades.

Nos dias de hoje, nem toda a sociedade discute a apropriação do espaço pela publicidade. Lícita ou ilicitamente, a publicidade em pouco mais de duas décadas alcançou todos os lugares visíveis no meio urbano, e tem planos de chegar à lua, de exalar odores e produzir ruídos sonoros ao mesmo tempo. A grande pergunta é: você tem o direito de não absorver publicidade?

Segundo a Lei Lei de Política Nacional do Meio Ambiente - Lei 6.938/81, a poluição constitui "a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direita ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem–estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energias em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos".

Creio que não existe nenhuma posição legal a respeito de não querer “engolir as coisas”, e sim de quanto isso interfere positiva ou negativamente na sociedade. No documentário “ESPAÇO RESERVADO P/ PIXADORES” de Marcelo Reis, um de seus entrevistados - um importante empresário (se não o maior) do ramo de empenas e outdoors - diz que “se você não quer ver televisão, você desliga ela. Se você não quer ver um outdoor, você que desligue seu olho”. Parece piada, mas não é.

Em contrapartida, “apenas a pichação e o grafite estão previstos na Lei dos Crimes Contra o Meio Ambiente (Lei 9.605/98), cujo art. 65 estabelece, expressamente, as penas de detenção e multa para quem "pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano"”

Recentemente, a cidade de São Paulo implantou com sucesso e resistência por parte do empresariado e das redes de publicidade, o projeto “Cidade Limpa”, que segundo a procuradora do Município de São Paulo, Adriana Maurano:

“A "Lei Cidade Limpa" tem sido objeto de grande polêmica, devido à proibição de qualquer propaganda, como outdoor, placas, luminosos e banners, ficando, a mídia externa, restrita aos espaços do mobiliário urbano, como pontos de ônibus, relógios públicos e placas de rua. Muitas questões envolvem a sua constitucionalidade, diante dos direitos de propriedade, e livre iniciativa e livre concorrência.”

Em suma, o que era antes a propaganda do espetáculo se tornou agressivamente a espetacularização da propaganda, onde o receptor é agredido visualmente com milhões de cores, luzes, textos, imagens sedutoras carregadas do discurso “compre a qualquer custo”.

As dimensões da publicidade, além de contribuir para diminuição da qualidade de vida das pessoas do meio urbano principalmente, vende o inacessível, a ilusão e o fetiche da mercadoria. Não é desnecessário dizer que um outdoor, por exemplo, ao afirmar que determinado produto é mais importante pelo status que o mesmo pode proporcionar, coloca ao mesmo tempo o consumo além do consumidor.

Devemos questionar a ocupação do espaço pela publicidade, mas também a própria publicidade e seu impacto social. Um outdoor sobre sapatos numa favela de belo Horizonte que diz “o conforto é irresistível” é no mínimo um crime moral, além de um desrespeito aos moradores por detrás da propaganda ao desconsiderar que existe um mundo de pessoas sem acesso a boa parte das maravilhas do consumo capitalista.

ESPAÇO RESERVADO P/ PIXADORES (34 min. Mini DV, Belo Horizonte, 2007) de Marcelo Reis; Sobre poluição visual e a nova lei paulista de publicidade, acessar p artigo de Adriana Maurano <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9498>.


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Carlos Alberto está se graduando em História, é chefe de cozinha e músico de araque. Especialista em filosofia de buteco, estratégias sustentáveis de sobrevivência na cozinha e soluções subversivas para superar rotinas exaustivas de trabalho. Fale com ele: veganito126@gmail.com



   
 

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