
16/10/07
Educação, informação
e linguagem no tempo da tecnologia
...o saber deve morrer
para ressuscitar como vontade e recriar-se a cada dia como
livre personalidade (STIRNER, 2001)
É comum ouvir dizer
por aí que a educação necessita de
mais investimentos financeiros, pois as escolas estão
precárias e mal administradas. Uma pequena parte
disso é verdade pois faltam investimentos que não
são somente financeiros, mas também humanos
e culturais.
Parto da minha experiência
como licenciando em história, como futuro educador,
como estagiário e observador crítico do ambiente
escolar para fazer breves apontamentos sobre o assunto.
Nos últimos meses tenho investido algum esforço
em acompanhar pesquisas na área de educação
e acompanhar professores e coordenadores de escolas públicas.
Muito do que percebo da realidade
escolar está relacionado com o descaso em relação
à educação pública. As escolas
públicas - em especial as estaduais sobrevivem
entre problemas internos e externos, dos mais variados.
A falta de preparo dos profissionais da área de educação,
dos que administram, coordenam e se comprometem com o bom
funcionamento da escola é um dos principais problemas
internos.
Outro fator explícito
é a dificuldade dos profissionais da educação
que trabalham em escolas públicas em assimilar os
alunos como contemporâneos, como indivíduos
inseridos no mundo da informação em quantidade.
Muitos professores são incapazes de lidar com a linguagem
da tecnologia, da moda e do mundo da violência. Hoje,
para uma criança, é muito mais fácil
operar um telefone celular de ultima geração
que localizar um livro na prateleira da biblioteca.
As crianças, mesmo as
de periferia, entendem a linguagem das ruas, da tevê
e até do orkut, mesmo com o mais restrito acesso
à internet. Essa é a realidade que os profissionais
da educação que se formam não estão
preparados para enfrentar. Em uma pequena escola estadual
de Belo Horizonte, por exemplo, um aluno de 12 anos me perguntou
se eu já possuía email e msn. Perguntas assim
são freqüentes, embora seja constatado que a
maioria desses alunos não possuem internet em casa.
Já nas escolas particulares,
celular, Mp3, iPod, internet, Orkut, são termos tão
comuns que não fazem parte da fantasia dos alunos,
e muito menos são um fetiche dos mesmos, ao contrário
do que acontece nas escolas públicas. Os professores
das escolas particulares são constantemente avaliados
e adequados não só pela logica do trabalho
e do vestibular, mas do novo fluxo de informação,
das novas linguagens e das novas metodologias de educação.
Esse problema envolve ainda
a sexualidade dos alunos que estão cada vez mais
'entendidos' que as gerações anteriores. Sexo,
masturbação, pornografia, homossexualismo
e prostituição são temas nada estranhos
para os garotos que têm em média 11/12 anos.
Como lidar com isso? Como ir além dos nossos limites
de compreensão do mundo?
Estas são perguntas
que devem ser de toda sociedade, partir de todos os núcleos,
sejam eles os núcleos mais conservadores ou os mais
radicais. Não basta só dizer que a família
está desestruturada, que a televisão é
nociva para educação e que a internet está
cheia de merda. Hoje os parâmetros são outros,
e devem ser mais próximos do parâmetro do filho
que nasce que do parâmetro do pai que morre.
O clichê mais repetido,
que educar também é aprender,
ainda é válido. Aprender com a realidade dos
alunos para que eles tenham autonomia para atuar e mudar
seu próprio meio.
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Carlos
Alberto está se graduando em História,
é chefe de cozinha e músico de araque. Especialista
em filosofia de buteco, estratégias sustentáveis
de sobrevivência na cozinha e soluções
subversivas para superar rotinas exaustivas de trabalho.
Fale com ele: veganito126@gmail.com
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