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Seu romance mais conhecido, e um dos poucos que teve mais que uma edição – A Capital (1903) –, é inspirado na transferência da capital do Estado de Minas Gerais de Ouro Preto para a nova cidade símbolo do projeto republicano de modernização e desenvolvimento: Belo Horizonte.

 

08/01/08
Na contramão: O escritor esquecido no seu tempo

Embora quase tenha ocupado cadeira na Academia Mineira de Letras, Avelino Fóscolo, nascido em Sabará no ano de 1864, é parte de um passado engavetado que, quando aberto, surpreende os poucos que tomam conhecimento de suas obras. Para quase todos, saber que em Minas Gerais existiu um romancista assumidamente anarquista na virada do século XIX é de torcer a pestana. Poucos compreendem a importância, no ponto de vista histórico, das obras de um autor que não possui o olhar domesticado em ralação a sociedade, que denunciou sua própria realidade sem perder a sensibilidade de um escritor.

Fóscolo, segundo a autora de sua biografia Leticia Malard, saiu de casa ainda adolescente e logo ingressou na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, onde trabalhou por algum tempo. Destacou-se também como ator de circo e percorreu alguns países da América Latina, representando espetáculos de sua autoria.

O Caboclo, A Capital e Morro velho, dentre outros romances ainda quase inacessíveis, que abordavam temas como a liberdade sexual feminina no início do século e os últimos momentos da escravidão em Minas Gerais, trouxeram à tona uma narrativa atrelada ao seus princípios políticos e fez da literatura um documento social que hoje é essencial para entendermos o passado mineiro na contramão do discurso corrente.

Seu romance mais conhecido, e um dos poucos que teve mais que uma edição – A Capital (1903) –, é inspirado na transferência da capital do Estado de Minas Gerais de Ouro Preto para a nova cidade símbolo do projeto republicano de modernização e desenvolvimento: Belo Horizonte. Neste, Avelino Fóscolo, contemporâneo dos acontecimentos e com idade de 33 anos, descreve a conturbada e controversa construção da cidade.

Os moradores de Ouro Preto não viram com bons olhos a transferência da sede da capital do Estado, e a partir de então muitos boatos surgiram para difamar e combater tal acontecimento. Costumavam dizer que a água da nova cidade estava contaminada ou que as pessoas estavam enlouquecendo. O estranhamento com os novos padrões de vida na recém nascida capital ou com as festividades desvinculadas às tradições católicas eram, para alguns, algo que impossibilitaria a vida social.

Com os pés no chão, o autor de A capital nos mostra os limites da aspiração modernista da Primeira República e como o “progresso e o desenvolvimento acima de tudo” ainda estaria longe de se concretizar. O que se viu na construção da nova capital foi, acima de tudo, a exploração da população, a especulação imobiliária e o comércio desenfreado, bem como a aglomeração de diversos aventureiros na cidade. Os operários que se estabeleceram aos arredores da cidade logo se tornaram os miseráveis famintos que transitaram pelas ruas.

Com personagens típicos e simbólicos do período, Fóscolo mostrou a euforia e a desilusão que borbulhavam em Belo Horizonte, sem sonhar ou maquiar a realidade que ele mesmo fazia parte. Em Morro Velho, romance desenrolado na mina de Morro Velho (atual Nova Lima), onde o autor trabalhou quando jovem, foram retratadas as condições de vida e trabalho dos mineradores de Nova Lima no final do século XIX.

Combatido por ser anarquista, o controverso Fóscolo produziu obras brilhantes, mas indigestas para as elites alfabetizadas que tinham acesso a leitura. Alguns exageraram nas críticas, alegando a proximidade do autor mineiro com as obras de Émile Zola, autor do célebre Germinal.

Se nos dias de hoje o anarquismo não é devidamente reconhecido como filosofia politica, e chega até ser motivo de chacota para alguns, o contexto de Avelino não era muito diferente, embora o anarquismo no Brasil esteja no auge até a década de 1920. Avelino foi sem dúvida um autor muito importante para o Estado de Minas Gerais, e suas obras, aos poucos, têm reconquistado espaço e reconhecimento acadêmico.



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2007

 

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Carlos Alberto está se graduando em História, é chefe de cozinha e músico de araque. Especialista em filosofia de buteco, estratégias sustentáveis de sobrevivência na cozinha e soluções subversivas para superar rotinas exaustivas de trabalho. Fale com ele: veganito126@gmail.com



   
 

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