
06/11/07
Desenvolvimento sustentável?
É
impossível passar um dia sem escutar algo sobre desenvolvimento
sustentável. Essa expressão repercute incessantemente
nos meios de comunicação, mas sem levar a
um questionamento mais filosófico e profundo sobre
a questão que saia do imediatismo do aquecimento
global.
O idéia de desenvolvimento sustentável surgiu
da necessidade de conciliar desenvolvimento econômico
com redução do impacto ambiental da produção.
Segundo a WWF, "A definição mais aceita
para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento
capaz de suprir as necessidades da geração
atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades
das futuras gerações. É o desenvolvimento
que não esgota os recursos para o futuro."
Seguindo essa perspectiva,
o mundo têm redirecionado olhares para as questões
ambientais, não com a mesma atenção
que se volta para o desenvolvimento e o progresso da civilização.
Não pretendo repetir
o que já vem sendo falado sobre o aquecimento global
ou o esgotamento dos recursos não renováveis,
pois no meu entendimento já se trata de uma 'morte
anunciada'.
Seria uma grande desperdício
alimentar um otimismo sobre a relação desenvolvimento-meio
ambiente, já que o primeiro se trata do coração
do argumento capitalista, e o último no mesmo contexto
que o primeiro, expressa a esperança de que o cego
caminhe sobre a corda bamba.
A pergunta que falta no interior
das discussões revela a ambigüidade maior do
termo em questão: Qual desenvolvimento é sustentável?
A partir dela podemos levantar
uma série de outras perguntas sobre a civilização
e seu projeto de progresso, a partir de nós mesmos,
já que somos os conquistadores do mundo e os impositores
da cultura mais predatória de todos os seres.
Questionar minimamente a nossa
posição no mundo (em que nossa civilização
se postou no centro dele) significa subverter a ordem o
processo de expansão, e mais ainda, questionar se
desenvolvimento e sustentabilidade são termos conciliáveis
de verdade.
Nossa idéia de desenvolvimento
é pensada juntamente com a nossa idéia de
progresso, e essa idéia, por sua vez, é apropriada
pelo capitalismo e mesclada com o sentido da palavra produção.
O progresso da civilização dependeria, então,
da produção.
Se pensarmos no desenvolvimento
sustentável de acordo com a WWF, por exemplo, deveríamos
parar de produzir para não prejudicar as gerações
futuras. E parar de produzir implicaria em parar de consumir
e de utilizar os produtos deste progresso. Se fala em redução
da emissão de carbono ao mesmo tempo em que comemora-se
o aumento de produção de automóveis.
O efeito colateral torna-se mais perceptível no trânsito
das grandes capitais que já estão prestes
a estourar de tão infladas.
Na minha opinião, cética
e nem um pouco otimista, não existe desenvolvimento
sustentável para cultura do consumo em que todos
nós estamos submersos. O progresso da civilização
é o desmantelamento de nossa própria condição
de vida no planeta, e nesse sentido, progresso não
pode ser confundido com evolução, já
que o primeiro termo é teleológico: pressupõe
início e fim estabelecidos. E o segundo não
é previsível e não pressupõe
uma ordem estabelecida. A partir de então fica fácil
presumir o fim que o progresso baseado na produção
pode nos levar. E mais fácil ainda perceber o quanto
nosso desenvolvimento é insustentável.
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Carlos
Alberto está se graduando em História,
é chefe de cozinha e músico de araque. Especialista
em filosofia de buteco, estratégias sustentáveis
de sobrevivência na cozinha e soluções
subversivas para superar rotinas exaustivas de trabalho.
Fale com ele: veganito126@gmail.com
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