
18/09/08
ENTREVISTA
Para
lavar com Sabonetes
De fato, a internet
tem sido a melhor ferramenta para as bandas independentes
dos anos 2000. Todos os dias me pego escutando algo novo
pelos myspaces e purevolumes espalhados
pela net, em estilos que vão da mistura
mais complexa aos propósitos mais genéricos.
Com os curitibanos do Sabonetes, meu primeiro contato foi
bem incomum em relação aos dias de hoje.
Formada por Artur (voz,
guitarra), Wonder (voz, guitarra), Alexandre (bateria) e
Samuel Oh (contra-baixo), Sabonetes surgiu em 2004 no curso
de Comunicação Social da UFPR, em Curitiba.
Após alguns anos amadurecendo sua música e
animando varias festas, shows e festivais, a banda lançou
seu primeiro single, intitulado “Descontrolada”
no final de maio de 2008. O show de lançamento contou
com a presença de Mallu Magalhães, fenômeno
musical da internet brasileira. Mais de 600 pessoas estiveram
presentes no lançamento, e os ingressos esgotaram
horas antes do show.
Os jovens Sabonetes
já tocaram nos principais palcos de Curitiba e em
diversas cidades da Região Sul. Recentemente fizeram
dois shows em São Paulo, onde também se destacaram
em vários meios de comunicação como
a revista Rolling Stone e o jornal Folha de São Paulo.
Além disso, também participaram do programa
Poploaded, apresentado pelos jornalistas Lúcio Ribeiro
e Fábio Massari. Hoje, para lavar a alma e as paredes,
a banda vem surpreendendo quem escuta, deixando todos na
espera de um novo trabalho.
No começo deste
ano, conheci o Artur através da sua outra banda chamada
Colligere, que estava em Belo Horizonte fazendo
alguns shows. Foi assim que se deu meu primeiro contato
com a banda Sabonetes. Sem abrir o Myspace, Artuur me mostrou
as faixas de “Descontrolada” e, pimba! A distância
havia encurtado entre meu player e o rock de Curitiba.
Em uma entrevista bate-rebate
via email, os garotos do Sabonetes contam com exclusividade
para O Binóculo um pouco da sua história,
dos seus planos e das experiências recentes.
Pessoal, como
surgiu o Sabonetes? Foi algo muito planejado, do tipo “projeto
de banda” ou surgiu espontaneamente?
Artur - Surgiu espontaneamente. Nos conhecemos no curso
de Comunicação Social da UFPR. Montamos a
banda pra tocar nas festas do curso. Na verdade a gente
sempre tocava nessas festas pra não precisar pagar
entrada e pra beber de graça. A coisa foi ficando
séria. Hoje em dia vivemos do Sabonetes e somos todos
alcoólatras rsrs.
Vocês estão enchendo a agenda. Como
tem sido os shows? Quando Belo Horizonte entra na lista?
Wonder - Estamos muito felizes com os shows. Conseguimos
muitas coisas legais com um EP de apenas 3 músicas.
Shows em lugares que não imaginávamos que
tocaríamos tão cedo. E com pessoas que realmente
gostam da música que fazemos. Isso é muito
bom.
O show em BH deve acontecer em outubro. Queremos muito tocar
aí, tomar uma cachacinha e rever os amigos!
Vocês disseram ao Trama Virtual que “são
muito pop para o alternativo. E muito alternativos para
o pop”. Acredito que essa afirmação
tem haver com as referências da banda. Expliquem isso.
Artur - É verdade. E depois disso, eu disse: “estamos
fadados ao fracasso” rsrs, tem um pouco de verdade
nisso, mas é só uma frase de efeito. A gente
escuta tanta coisa diferente que dá muito trabalho
listar. E é complicado dizer, no meio de tanta diversidade
musical, o que realmente é influência e referência.
E tem o lance da imprensa ter a necessidade de comparar
com certa banda existente, ou enquadrar em algum estilo
determinado. Quando esse estilo não existe, eles
inventam um novo. Comparam a gente com tanta coisa inesperada.
Inclusive com bandas que eu não conheço. Não
ligamos muito pra isso. Coloco meu disco do Cartola e esqueço
do mundo. rsrs
A internet atingiu em cheio o cenário independente
e alternativo. Todos os dias eu me surpreendo com o que
vejo. Mais bandas, e bandas mais criativas. Todos no mundo
da música ganharam espaço para divulgar e
se promover, mas ao mesmo tempo o nível técnico
aumentou (o que é um fato positivo) e as dificuldades
de sair do espaço virtual também. Como vocês
lidam com a internet? Tem estratégia para virar fenômeno
como Mallu Magalhães e Panic at the Disco! Ou as
preocupações são outras?
Artur - Não há
preocupação nesse sentido. Nossas prioridades
são outras. Penso que é mais interessante
dar um passo de cada vez. Podemos andar mais devagar, mas
damos passos firmes em lugares mais seguros. Usamos bastante
a internet. Através dela conseguimos a maioria dos
shows, fazemos contatos, divulgamos nossa música
e respondemos entrevistas como esta. Mas o mais importante
ainda é o show.
Muitas bandas tem lançado seus discos em
primeira mão na internet. Penso que para um músico
ter seu trabalho lançado em CD é um motivo
muito maior de orgulho, mas ao mesmo tempo, pouco lucrativo
para bandas de pequeno porte que não conseguem dizer
ao público que seu trabalho vale o preço de
uma mídia material. O que vocês pensam a respeito?
Artur - Já não compro CDs. Só de bandas
de amigos. Por isso acho que perdi esse apego pelo disco
material. Com o avanço tecnológico é
possível gravar um belo cd dentro do seu quarto e
divulga-lo para o mundo inteiro sem se levantar da cadeira.
Isso prejudica o mercado fonográfico, que está
tendo que se reinventar. Acho isso muito positivo, pois
o artista pode ter mais liberdade. Hoje em dia, se você
quer ter uma banda para ficar rico, famoso e poderoso, pode
esquecer. È muito trabalhoso. Como diz o Macaco Bong:
Artista igual Pedreiro.
Então, só permanece fazendo música
quem realmente faz por amor.
As bandas independentes no Brasil, principalmente as que
tem se enveredado para o lado “pop” estão
abandonando as letras em inglês e tentando aos poucos,
abandonar os formatos norte-americanos - infelizmente de
uma forma não muito natural. Percebi nas musicas
do Sabonetes uma coisa diferente, uma produção
'gringa' com uma despretensão peculiar. É
bom e soa como banda daqui. Como foi o processo de produção
e gravação do single e do EP Descontrolada?
Caja - Como você disse, existe mesmo uma sonoridade
gringa nas gravações, mas é tudo made
in Brasil. Boa parte da culpa é do Tomás Magno,
que produziu as músicas em estúdio com a gente.
Foi tudo rapidíssimo, composto, ensaiado e gravado
em oito dias em dezembro passado. Depois ficamos esperando
a vinda das mixagens e uma boa oportunidade para lançamento,
que aconteceu em maio deste ano.
Como tem sido a repercussão do trabalho da banda?
Artur - Mais do que esperávamos para 3 músicas.
Os convites para shows não param de surgir. Temos
pela frente Goiânia, Porto Alegre e Santa Maria, interior
do Paraná... Fomos recomendados pela Folha de São
Paulo, revista Rolling Stone, e em diversos sites de música
independente, como Tramavirtual, Myspace, Banana Mecânica...
Apesar da musica Pop ser mais acessível, o mercado
ao meu ver costuma ser muito mais restrito. O que vocês
pensam da industria fonográfica no Brasil?
Wonder - A indústria fonográfica no Brasil,
como em qualquer país, é uma empresa que visa
ao lucro. Está aí para promover os artistas
que podem vender, seja Chico Buarque, seja Latino. E pra
mim não há nada de mal nisso.
Mas à margem desse mercado, estão as bandas
independentes, bandas que não tocam em novela. Independente
do estilo, o segredo – salve, salve Rhona Byrne! –
é o mesmo para todas, fazer a música chegar
ao público.
Finalmente,
o espaço é para vocês. Obrigado pela
entrevista e boa sorte!
Sabonetes - A gente que agradece o espaço. Bem, pessoal,
escovem os dentes, concluam o segundo grau, escutem Sabonetes
e sejam felizes.
Para limpar os ouvidos
http://www.myspace.com/sabonetes
www.tramavirtual.com.br/sabonetes
http://www.fotolog.com/sabonetescwb
http://www.youtube.com/bandasabonetes
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Carlos
Alberto está se graduando em História,
é chefe de cozinha e músico de araque. Especialista
em filosofia de buteco, estratégias sustentáveis
de sobrevivência na cozinha e soluções
subversivas para superar rotinas exaustivas de trabalho.
Fale com ele: veganito126@gmail.com
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