
25/09/07
Idosos e famosos
Repórter de polícia
agüenta cada uma... Agora eu vi. Cachê! Isso
mesmo! Foi o que sugeriu um dos suspeitos de estelionato
presos ontem pela Polícia Militar de Contagem, região
metropolitana de Belo Horizonte.
Dois senhores, um de 66 anos
e outro com aproximadamente 68, foram presos por suspeita
de estarem aplicando o golpe do bilhete premiado em uma
senhora no Bairro Eldorado. A Polícia Militar acredita
que eles sejam os autores de mais oito golpes registrados
nas duas últimas semanas.
João Batista Bispo,
66 anos, e seu comparsa - que ainda não teve a identidade
confirmada - venderam o falso bilhete premiado por R$ 5
mil para uma senhora. Em troca, ela acreditou que receberia
um bilhete premiado no valor de R$ 50 mil. É duro,
mas tem gente que acredita em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa,
Cegonha. E, quando alguém quer ser esperto, acaba
caindo em enrascada. Quem garante que a senhora apontada
como vítima não quis levar vantagem? Lógico!
Imagine, ela iria pagar R$ 5 mil e ganhar R$ 50 mil. Lucraria
R$ 45 mil. E sabe qual a desculpa que o idoso estelionatário
inventou para a mulher?
“Esse bilhete é
de um fazendeiro que ganhou na loteria, mas ele não
sabe. Então, eu não posso retirar o prêmio,
porque ele é meu patrão e descobriria, mas
posso vender o bilhete por 5 mil, que tal”?
Bom, ela aceitou tentar passar
a perna num fazendeiro, não aceitou? Então...
A repórter chega na
2ª Delegacia Distrital de Polícia Civil, em
Contagem. A cena: três mulheres conversando com os
inspetores, uma mais idosa sentada, chorando. A PM no computador
registrando o boletim de ocorrência e, láááááááááá
no fundo, dois senhores. Bem vestidos. Acima de qualquer
suspeita. A jornalista parte para o trabalho. Entrevista
o policial militar que explica como chegou aos dois suspeitos.
Só para vocês não ficarem curiosos:
O cabo explica que devido ao número de ocorrências
deste tipo, o batalhão já estava a procura
dos suspeitos. "O serviço de inteligência
localizou os golpistas e nós efetuamos a prisão.
Eles estavam próximos ao local onde deixaram a vitíma.
Encontramos os R$ 3 mil e eles assumiram a autoria do crime.
Tentaram fugir da prisão nos oferecendo dinheiro
para soltá-los", diz.
Na seqüência, a
vítima do golpe contou como os dois suspeitos agiram.
E, depois, o grande momento: os criminosos. Primeiro o João.
Ele negou tudo, lógico; mas não desmentiu
a história de que contra ele há dois mandados
de prisão emitidos pela Justiça do Estado
de São Paulo. Depois o comparsa do Sr. João
(senhor mesmo, afinal ele passa dos 66 anos de idade e merece
respeito). O comparsa conversou, contou algumas coisas,
caiu em contradição e, também negou
tudo. Num dado momento, a repórter volta o microfone
para o Sr. João e, de repente ouve um cochicho vindo
de uma pessoa ao lado:
“Será que nós vamos receber cachê
pra ficar dando entrevista”?
Isso mesmo, o comparsa fez essa pergunta ao Policial Militar.
Como a jornalista não poderia perder a oportunidade,
indagou: “Cachê? Eu ouvi bem”? O homem
estatelou os olhos, amarelou e inventou: “cachê?
Ah... sim. Eu tava vendo com o "Seu" guarda se
ele não tinha um cachê para pagar um almoço
para nós. Tô aqui algemado há um tempão,
morrendo de fome”.
Além de ouvir mil justificativas
de que são inocentes, mesmo com vítimas, testemunhas,
provas materiais, a repórter ainda tem que escutar:
“Vai ter cachê”?
171 é triste, quer levar
vantagem em tudo, até na hora de ficar famoso.
Leia também:
18/09/07
- Onde vai parar essa guerra?
12/09/07
- Só pra pobre, preto e puta!
28/08/07
- "Num pó fala"
21/08/07
- Onde está a resposta?
14/08
- O errado tem chances de dar certo, se for bem
feito
07/08- Não
adianta chorar o leite derramado, mas vale reclamar o empedrado
__________________
Camila
Dias é jornalista poilicial, pós-graduanda
em Criminologia pela UFMG. Escreve aqui toda terça-feira.
Fale com ela: camilajrn@yahoo.com.br
|