
18/07/08
Congresso Internacional
do Medo
No mundo atual, vivemos
numa balança medidora de poder. Para detê-lo,
o homem utiliza-se de mecanismos variados como conhecimento,
dinheiro, sucesso, fama, beleza.
O conhecimento é,
sem dúvida, uma das formas mais atraentes de se reter
(e se ostentar) o poder. É esse o suporte dos grandes
discursos humanos, da retórica, da capacidade argumentativa,
daquele que apresenta, do que fala, do que ensina. Ao que
assiste, resta concordar ou discordar, retratar-se ou convencer.
A que lugar queremos
chegar com as grandes questões, discussões,
argüições? Ao pleno exercício
filosófico? Até que ponto o conhecimento deve
ser funcional? Até que ponto deve servir de garantia
ou sustentáculo social? A pauta em questão
serve apenas como ponto de partida para o tema que pretendo
abordar: “O Congresso Internacional do Medo”,
nova peça do Grupo “Espanca”, que tem
como estro o poema homônimo de Carlos Drummond de
Andrade.
Nela, o “conhecimento”
é recorrente e torna-se cerne da questão a
partir do momento em que nos vemos presos num congresso
onde palestrantes de diversas neo-nacio-logística-nalidades
se encontram para discutir as especificidades, os problemas
e as questões sócio-culturais-politico-lúdico-tradicionais
de suas pátrias. Com o detalhe nada convencional
de que este debate é composto por palestrantes que
representam esteticamente uma diversidade cultural, racial
e, principalmente, lingüística eminente no aparato
mundial contemporâneo.
Através de idiomas
inventados, traduzidos por uma cadeirante (representante
de uma camada excluída da sociedade), a platéia
é colocada frente a uma série de discussões
desconfortantes e acaba por participar ativamente do congresso.
Ao mesmo tempo, cada personagem lida, ainda, com seus próprios
medos, anseios e questões. Em meio à “blablação
irrefreada”, gráficos e projeções
ilustram o discurso enquanto a tradutora explica, em português,
o português, o “nada”, a vida, a morte
e outras dissidências impostas pela natureza, anteriores
ao conhecimento e inúteis à teoria do saber.
É quando
percebemos que uma palavra representa muitas coisas e que
a intenção de uma palavra pode transformá-la
ou não em sua definição mais certa.
É quando percebemos que nada é mais forte
que a ordem natural das coisas. Que a terra, a água
(às vezes borrada de vermelho), o fogo e o ar são
fundamentos interligados e anteriores até mesmo ao
instinto humano. É quando percebemos que nos resta
globalizar o medo, que nos resta gritar em silêncio
as danças faladas em outra língua. É
quando conseguimos perceber um “Espanca” em
evolução.
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Brisa Marques é
jornalista e atriz. Acredita na arte, em qualquer uma de
suas formas, como a essência fundamental do ser humano.
Escreve quinzenalmente às sextas-feiras.
Fale com ela: brisamarques@gmail.com
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