
30/10/07
O dia em que acordei velha e chata
Ando meio nostálgica.
Peguei umas fitas VHS esses dias (sim!!! Fitas de videocassete)
de quando eu tinha dez anos de idade e tinha um paquera
que era dez meses mais novo que eu. Hoje, ele está
casado e com dois filhos. E eu to aqui. Solteira. Ainda
com medo de me comprometer. Ainda me envaidecendo por estar
bem melhor do que minhas amigas da minha idade que se casaram
e tiveram filhos. Ainda me esquivando e inventando uma desculpa
nova a cada dia que alguém cisma que quer namorar
comigo. Ainda achando que casar e ter filhos não
é pra mim. Ainda achando barangos todos os vestidos
de noiva, as igrejas lotadas e as frases feitas do tipo
até que a morte nos separe (que nada
mais é do que um eufemismo para até
que um de nós morra).
Tenho saudade dos tempos de
escola. Das paqueras na hora do recreio. Daquela coisa inocente
de esperar os meninos saírem do colégio. Do
frio na barriga quando meu paquera vinha em minha direção.
Do tempo em que não existia orkut e ninguém
fuçava a vida de ninguém. Do tempo em que
a gente pedia pra amiga descobrir o telefone do menino mais
lindo da sala. Do tempo em que não existia celular,
muito menos identificador de chamada e a gente ligava pro
telefone dos meninos e desligava quando eles falavam alô.
Do tempo em que não existia messenger e as pessoas
tinham que ligar umas pras outras quando queriam se falar.
Tinham que sair das suas casas se queriam se ver.
Hoje, além de a gente
não ser mais adolescente, a tecnologia fudeu com
a nossa vida. O identificador de chamadas do seu celular
serve pra você só atender quem você quiser.
O mesmo vale pro cidadão que só te atende
quando ele quiser. O messenger, uma praga. Um troço
que consegue reunir, na mesma janela: seu ex-namorado, uma
meia dúzia de ex-ficantes, uns dois ou três
paqueras que nunca saíram do virtual e mais uns duzentos
cidadãos e cidadãs que nunca te disseram um
oi e te adicionaram sabe deus porque.
Acabou o glamour da coisa.
Tudo acontece tão rápido agora que, na mesma
noite que você conhece um cara, você já
tem o celular dele, o messenger, o skype e já sabe
da vida inteira do cidadão porque o orkut dele tem
fotos de todos os lugares por onde ele esteve nos últimos
tempos e recados de todas as meninas que ele pegou (ou está
pegando). As pessoas não ligam mais pra casa das
outras porque os relacionamentos são tão efêmeros
que ligar pra casa de alguém passou a
ser uma coisa muuuuuuuito íntima. Seu ficante não
liga pra sua casa pra te chamar pra sair. Ele espera pra
ver se você vai estar online na hora que ele estiver
afim de falar com você e, se você estiver offline,
ele chama a próxima da lista (literalmente) que estiver
online. Simples assim.
Acabaram as flores, os cartões
de aniversário, as cartas, a monogamia. Acabou o
sossego. Seu namorado interage virtualmente com a ex-namorada
dele, com a vizinha da frente (com quem ele não interagiria
se não existissem todos essas malditas ferramentas
virtuais), com as ex-ficantes e com as futuras. Pela internet,
ele avalia e escolha a mulher que vai ser delivered na casa
dele. Loira ou morena. Com roupa ou pelada.
Acho que to é ficando
velha (pelo menos é o que o calendário me
diz). Velha e mal humorada. Tenho saudade de um tempo que
não volta mais (mesmo achando que casamento, monogamia,
vestido de noiva e ter filhos é ultrapassado). Tenho
saudade do interfone tocando. Da campainha e do telefone
da minha casa. Tenho saudade da minha mãe gritando:
fulano tá te esperando lá embaixo. Saudade
das pessoas disponíveis ao invés de online.
Saudade de alguém chegar na minha casa de ao invés
de fulano acabou de se conectar. Saudade da
vida real. De me estrepar ao invés de tomar end.
De brigarem comigo ao invés de me bloquearem. De
ouvir um não ao invés de me deletarem. Tão
simples e a gente complica. Tão complicado e a gente
simplifica.
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Brena Braz. Publicitária. Apaixonada pelos
animais. Admiradora dos corpos perfeitos, das mentes brilhantes
e dos sorrisos sinceros. Contato: brenabraz@gmail.com
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