
22/01/08
Cafagestagem é poesia
Era tudo mentira quando eu
falava pra você só falar a verdade. Pra ser
direto. Não. Mulher gosta de rodeios. Gosta de ser
galanteada. E até de ouvir uma mentirinha de vez
em quando. Fale que eu sou a mulher mais linda do mundo.
Que eu sou mais bonita que a Gisele Bündchen. Fale
que vai me amar pra sempre. Jure fidelidade eterna. Diga
que eu sou a pessoa mais importante na sua vida. Minta como
se estivesse dizendo a verdade.
Eu não gosto tanto assim
do escracho como eu dizia que gostava. No fundo ainda
que muito fundo eu gosto de um pouco de romantismo.
Quem fala que não gosta está mentindo. Despiste
se quiser só meu corpo. Me mande flores, me leve
pra jantar. Finja que gosta de mim mesmo que, no final das
contas, só queira me levar pro motel. Finja que é
meu, ainda que só por uma noite. Eu gosto desse conto
de fadas imaginário que toda mulher cria na cabeça
pra colorir a vida um pouco. Eu gosto de ouvir elogios exagerados.
De receber mensagens bobas no celular. De receber e-mails
no final da tarde e flores no meio do trabalho. Eu gosto
de criar fantasias impossíveis. Se eu te chamar pra
viajar comigo, não significa que você precisa
ir. Minta que vai só pra não estragar a história.
O que eu quero mesmo não é nenhuma viagem.
Eu finjo que odeio o seu ciúme
mas morro de rir por dentro. Acho lindo quando algum bonitão
passa do meu lado e você vigia meu olhar com seus
olhos. Acho lindo quando meu celular toca e você,
despistadamente, tenta ver quem é. Acho lindo quando
a gente sobe no elevador com algum vizinho gato e você
me pergunta quem é esse cara? depois
que ele desce no andar dele. Acho lindo que você não
tem ciúmes dos meus amigos feios.
Mas você se tornou tão
previsível que perdeu o encanto. Você me conta
que acha a vizinha gostosa, que acha aquela
baranga da televisão boazuda e que acha
minha amiga muito boa. Você conta que
quebrou o pau na noite anterior. Que bebeu além
da conta. Que seus amigos são todos galinhas. Essa
sua mania de ser direto acabou com toda a poesia. Você
se tornou meu homem-objeto e eu me tornei alguém
que eu não sou. Inventei uma mulher-objeto pra te
agradar. Invento que eu não gosto de você.
Que eu não to nem aí pros seus desejos pelas
outras mulheres e finjo que não ouço as coisas
desnecessárias que você fala. Invento que eu
não gosto do romance e da poesia da coisa.
Mas, quer saber?! Eu gosto
da meia-luz. Eu gosto das palavras que só insinuam.
Eu gosto do jogo que eu sei jogar. Eu gosto de ser seduzida
e não arrastada pelo cabelo. Eu gosto da sua mão
segurando a minha e não só dela pelo meu corpo.
Eu gosto de me sentir a Marilyn Monroe e não a loira
do Tchan. Eu gosto de vinho tinto e não de cerveja
na lata. Eu gosto de jazz e não de funk.
Te peço: finja de bom
moço. Mande mensagem. Mande flores. Mande no rumo
da minha vida. Me pegue no colo. Dance comigo no supermercado.
Coloque o meu CD favorito quando eu entrar no seu carro.
Me chame de princesa. Me chame de linda. Me chame pra fazer
parte da sua vida. Apareça de surpresa. Entre na
minha vida sem eu perceber. Minta que eu sou a única
mulher que você deseja. Minta que você mataria
um dia de trabalho pra ficar à toa comigo em casa.
Minta mesmo que eu não acredite em nada disso. E,
se você resolver tornar tudo isso realidade, apenas
seja. Eu não preciso saber que é verdade.
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2007
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Brena Braz. Publicitária. Apaixonada pelos
animais. Admiradora dos corpos perfeitos, das mentes brilhantes
e dos sorrisos sinceros. Contato: brenabraz@gmail.com
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