
16/10/07
E quem paga minhas contas?
Impressionante como as pessoas
não se cansam dessa formulazinha batida de novela
de "quem matou fulano". Ta aí porque eu
não assisto TV. Senão eu que iria me matar.
E o tal Big Brother, meu deus?! Sétima edição
da mesma baboseira??? A gente precisa mesmo disso? Será
que nossa vida é tão desinteressante assim
que precisamos da vida dos outros pra nos distrair? Será
realmente que não temos mais em que pensar a não
ser em quem matou quem na novela? To começando a
achar que o problema é comigo.
Minha conta da Intelig venceu
há dois dias e ainda não chegou a fatura pra
eu pagar. Isso porque os Correios estão em greve.
O que me lembra ainda que meu recurso da multa por estacionar
em local proibido também não chegará
no prazo ao órgão que me multou. E por falar
em multa, acho que vou ter que pagar sozinha o conserto
do meu carro. O conserto, não! Os consertos. Plural.
A fechadura da porta que o ladrão tentou arrombar,
o amassado na lateral depois que aquele imbecil bateu no
meu carro e não assumiu e, ah, as pastilhas de freio
que estão arranhando. Agora me lembro porque não
assisto novela. A última coisa que preciso é
saber quem matou Taís. Me poupem!
Num país onde prostituta
vira ídolo na novela, na Luciana Gimenez e na vida
real, não é de se espantar que o assunto do
momento é o tal defunto. Até a MTV espera
a porra da novela terminar pra exibir a outra porra que
é o Vídeo Music Brasil. A premiação
que eles esperam o ano inteiro e fazem contagem regressiva
por 364 dias. E tudo isso pra premiar uma bandinha desafinada
como a tal Fresno e a outra bandinha emo NX ZERO (como se
escreve isso?). É, pelo que parece, talento não
é o que conta por aqui. O que conta é conhecer
a pessoa certa. Mais que isso! Dar para a pessoa certa,
como fizeram nossa diva Luciana Gimenez, a intelectual Adriane
Galisteu e a nova arreganhada do momento, Mônica Veloso
(que, além de abrir as pernas pro Renan e na revista,
ajudou o país a esquecer o mensalão no banheiro).
Pra tentar chegar aos pés
da audiência da Globo e tirar as atenções
de tantos famosos na MTV, nossa diva leva aos palcos uma
moça de família da rua Augusta pra falar sobre
o tema "Ela só vai ao baile funk sem calcinha".
Que belos exemplos na televisão brasileira! Agora
me lembro também porque não vou colocar filho
no mundo. Pra não ter o desgosto de descobrir o que
é que uma garota vai fazer no baile funk de saia
curta e sem calcinha.
Enquanto eu ligo o computador
pra ver os e-mails com as putarias que meus amigos me mandam,
os renans comem as mônicas e eu ajudo a pagar a conta
do motel. Enquanto as aspirantes a famosas dão pros
produtores e pros donos de emissoras, eu tenho que tolerar
as cantadas baratas do playboyzinho fracassado do meu trabalho.
Enquanto as bandinhas sem o mínimo talento recebem
prêmios e dão entrevistas, eu dou o máximo
do meu talento e meu prêmio é fazer hora extra
na empresa onde trabalho. Enquanto loiras gordas de nome
estranho que falam errado com sotaque roceiro vendem câmeras
na TV, eu vendo o almoço pra pagar a janta. Enquanto
eu falo "janta", os deputados torram meu dinheiro
em jantares luxuosos, com moças baratas que vão
custar bem caro. Enquanto o país quer saber quem
matou Taís, Lineu, Odete e o diabo, enquanto os pobres
lotam as filas de inscrição pro Big Brother,
eu desligo minha televisão e ligo pra Intelig pra
pedir minha segunda via. Sou eu que pago a conta.
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Brena Braz. Publicitária. Apaixonada pelos
animais. Admiradora dos corpos perfeitos, das mentes brilhantes
e dos sorrisos sinceros. Contato: brenabraz@gmail.com
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