
06/11/07
Cama nova, lençóis brancos
e a velha companhia
Eu penso que estou ficando
velha desde que eu tinha 19 anos de idade. Hoje, praticamente
uma anciã, sinto sinais claros de envelhecimento.
Não que meu espelho esteja acusando alguma coisa.
Minha pele continua lisinha apesar de tanto sol e tanta
bronca do meu dermatologista. Meu corpo está melhor
hoje do que quando eu tinha 20 anos e um personal trainer.
Meu cabelo finalmente passou do loiro-arregalado-paquita
para um tom que combina mais comigo. A gente vai criando
certas noções com o tempo. E, talvez, esses
sejam os sinais mais evidentes de que estamos envelhecendo.
Depois de muitos carnavais,
micaretas e shows de bandas que nunca fizeram a mínima
diferença na minha vida, eu comecei a só beijar
pessoas que vão fazer alguma diferença. Depois
de me envolver com caras bacanas e caras idiotas, caras
legais e caras chatos, caras sarados e caras flácidos,
comecei a perceber que o cara certo não tem um rótulo.
Ele simplesmente te quer. A idade, ou a maturidade, ou o
envelhecimento... ou seja lá o que for, me fez perceber
que é muito adolescente esse negócio de querer
quem não quer a gente. Hoje, se o cara não
me quer, sinto muito. Vá cantar em outro terreiro.
Sei exatamente o que quero pra mim. E, definitivamente,
quero alguém que me queira.
Mas o sintoma mais grave de
envelhecimento está por vir: ando fazendo compras
na M.Martan. Isso mesmo. Por dois domingos consecutivos,
saí do shopping carregando sacolas que não
cabiam no porta-malas do meu carro. Edredons, lençóis,
travesseiros. Que pessoa da minha idade gasta tempo e dinheiro
com coisas de casa se ela não vai se casar nem está
mudando de apartamento? Sim, uma pessoa que se casou com
ela mesma (e que também está em constante
mudança). Uma pessoa que comprou uma cama gigante
(gigante!!!) pra dormir sozinha. Que comprou lençóis
brancos e um edredom de 2,80m pra esquentar ela mesma. Uma
pessoa madura o suficiente pra gostar da sua própria
companhia. Uma pessoa que não ocupa o espaço
sobrando na sua cama com pessoas que sobram na sua vida.
Uma pessoa que também não vai ser sobra na
vida de ninguém. E, sim, essa pessoa sou eu.
Envelhecer tem seu preço.
Você fica muito mais exigente. Você quer lençóis
100% algodão com num sei quantas centenas de fios
(entendo tudo de lençol agora!). E você não
importa de pagar mais caro por isso. Você quer um
cara que seja 100% seu (continuo sem entender nada de homens!).
E você vai pagar o preço que for pra isso.
Você exige qualidade e durabilidade. Exige material
de primeira linha. Você não compra mais roupa
de cama que acaba na primeira lavada. Você não
tolera relacionamentos que desbotam depois da primeira noite.
Você não quer tecido que tenha nem 10% de poliéster.
Não quer 15 caras te ligando se nenhum deles te interessa.
Ando nessa fase de lua-de-mel
com a cama nova e comigo mesma. Curtindo minha própria
companhia. Pintando as paredes do quarto. Jogando fora os
lençóis velhos. Dando pros outros os relacionamentos
antigos que eu não quero mais. Me reciclando. Amadurecendo.
Tecendo meu casulo novo pra criar asas e virar borboleta.
Passando por um processo de transformação
pra crescer. E o melhor disso tudo? Esse é o tipo
de casamento que dura pra sempre.
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Brena Braz. Publicitária. Apaixonada pelos
animais. Admiradora dos corpos perfeitos, das mentes brilhantes
e dos sorrisos sinceros. Contato: brenabraz@gmail.com
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