
12/09/07
Quando era noite
Infinitamente bela, ela me
é. Tem gosto de fruta e se veste de flores: junto
dela eu vi o céu de duas cores. Azul. Um claro e
o outro também. Só que mais escuro. Inédito.
Intrépido. Aguerrido ou atrevido, me parecia aquele
céu.
Depois de chorar, já recomposto em uma cor sólida
e ainda clara, sorria para nós dois. Um sorriso que
ia em arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, verde,
azul e violeta; rasgando a face sem nuvens do alto do céu.
Quando a noite veio, levando o sol, a lua num canto minguava
e as estrelas, cadentes, lacrimejavam.
Eu gostava quando era noite. Deitado em seu colo, assistia
aquela inspiração de poesia. O barulho do
nada, a luz do longe e o cheiro do ar, junto com o dela,
me entorpeciam. O sorriso me vencia. A boa sensação
me enchia e uma repentina vontade por fantasia me adormecia.
Quando era noite, em sonho, eu sonhava com um mundo onde
todos aceitavam as coincidências, onde as pessoas
não procuravam, a todo o instante, se esconder atrás
de explicações que não as levava para
lugar nenhum. Era um mundo mais fácil.
Nele, ela acreditava que o simples fato de ambos gostarem
do amarelo (e com ele estarem vestidos no dia em que se
conheceram) era uma simples coincidência. Acreditava
também que aquele amontoado de coisas em comum não
era nenhum sinal do macabro cupido, e sim, outra mera coincidência.
As várias manias que eles dois compartilhavam também
não lhe diziam nada de mais. Apenas uma característica
virginiana. Coincidência!
E, neste mundo das coincidências exatas, o amor lutava
para conseguir ser escutado e para vencer uma razão
que, de tão velha, deveria morrer cedo. Justamente
aquele mesmo amor que sempre fez com que as pessoas acreditassem
em qualquer outra coisa, a não ser coincidências.
O mesmo amor que cega e que enche o peito de esperança.
O mesmo amor que, de tanto tentar ser amor, agora jazia
em coincidência.
Eu gostava quando era noite. O beijo dela me cobria e seu
corpo me surgia. Era ela. Infinitamente bela.
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Alan
Terra é jornalista, acha que é escritor
e se mete a enteder sobre vários outros assuntos.
Escreve aqui todas as quartas.
Fale com ele: alanterradutra@gmail.com
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