
10/10/07
Crepúsculo de nova era
Ali, naquele instante de crepúsculo,
os olhos dele buscaram os dela. Ao fundo, o mundo dos olhos
dela. Um mundo criado com gotas de sonhos dispersos nos
quais ela nunca parou para prestar atenção.
Imaginação, fantasia e mais um monte de bobagens
importantes.
De início, os dois olhares,
frente a frente, não se encontravam. Positivo com
positivo. Enfim, ela olhou. De impacto um susto e depois
a calma. De onde será que brota a calma? Ficaram
ali se olhando, imóveis. O vento soprou, o gavião
voou e nada parou.
Por fim, a chuva caiu e aquela
viagem intra-ocular, que parecia uma eternidade, teve seu
fim. A chuva fazia barulho, o cheiro da terra subiu e a
poeira baixou. Ele, cabeça feita, suspirou. Ela,
linda em sua maravilha, sorriu.
Leve como o ar, como o cair
da chuva, foi o beijo. Um estalo de furor, um convite. Como
se alguma melodia ditasse o ritmo, aquilo se consumiu. Voltaram
a se olhar. Nele, o peito apertou, o calor aumentou e novamente
suspirou. Ela desta vez não sorriu. Ficou estacada,
olhando-o com seus olhos de sol e transmitindo algo de bom,
mas sem nome. Alguma coisa.
Ele se foi e ela, em seu coração,
com ele veio. Um devaneio. Pessoas amadas ficam para trás
largando lembranças incríveis que nenhuma
saudade traz. Pois está tudo bem, deixe estar. As
folhas quando caem, nascem outras no lugar. Mais cedo ou
mais tarde aprende-se uma lição que, de acordo
com Drummond, é discreta: “ode cristalina é
a que se faz sem poeta”.
Leia também
03/10/07
- A minha visão
19/09/07
- Com quantos curtas se faz um longa?
12/09/07
- Quando era noite
06/09/07
- Veredicto (ou o bilhete da flor)
29/08/07
- 4:20 am
_____________________________________________
Alan
Terra é jornalista, acha que é escritor
e se mete a enteder sobre vários outros assuntos.
Escreve aqui todas as quartas.
Fale com ele: alanterradutra@gmail.com
|