OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     
Apesar do gosto pela fantasia, ele achava que estava na hora de dormir, mas o seu relógio já marcava quatro e vinte da manhã. Decidiu então, de relance, que era um momento oportuno para ficar acordado, abrir a cabeça e escrever sobre ela.
 

29/08/07
4:20 am

Era um dia de noite sem sono, de madrugada preta. A música, ao invés de acalantar, atrapalhava um pouco. Assim como o ronco do amigo que dormia ao lado. A bebida não teve graça e agora ele se sentia como se estivesse sentado numa poltrona de um ônibus de viagem. Sentia solidão e sobre ela filosofava; emergia-se em alegria e, por conta dela, fazia planos; se afogava em arrependimentos mundanos e, por isso, tentava melhorar. Tudo misturado.

Deitado num cômodo castanho e frio, ele ficou mastigando um arco-íris de sentimentos que acabava por soprar seus pensamentos para o colo dela. Ela, que das cores do arco-íris é o amarelo, era a única coisa que o fazia perder linhas de raciocínio naquele momento de total dispersão da realidade.

Mesmo assim, ele imaginava ter a paciência que Michelangelo teve ao fazer a estátua de Davi, quando observou por quatro meses um enorme bloco de mármore e, dois meses depois, fez dele a estátua; para conseguir entender o tempo pelo relógio dela. Sonhava também em ter, para nunca desistir do que deseja tentar conseguir, a persistência do Dia e da Noite que, como conta uma lenda chinesa, de tanto tentarem ficar juntos - nas horas mágicas do anoitecer e do amanhecer - foram presenteados pelos deuses com os eclipses.

Dessa forma, ali naquela viagem inquieta, ele tentava se encher de coragem para fazer o que achasse necessário, para que nunca precisasse reclamar de coisa alguma. Todavia, se algum dia tivesse mesmo que reclamar, ele o faria da mesma maneira que a Noite e o Dia, que borravam o céu de vermelho pela raiva que sentiam por não poderem ficar juntos.

Apesar do gosto pela fantasia, ele achava que estava na hora de dormir, mas o seu relógio já marcava quatro e vinte da manhã. Decidiu então, de relance, que era um momento oportuno para ficar acordado, abrir a cabeça e escrever sobre ela. Ela, que ao mesmo tempo era dia, noite e era obra de arte. Ela, que de todas as cores do arco íris, é o amarelo.


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Alan Terra é jornalista, acha que é escritor e se mete a enteder sobre vários outros assuntos. Escreve aqui todas as quartas.
Fale com ele: alanterradutra@gmail.com


   
 

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