
03/10/07
A minha visão
Na frente, o meu rosto. No
meu rosto, meus olhos que olham para frente avaliando minha
quietude intensa. Pouco mais de um segundo. De repente,
sem repente, meu coração dispara. Não
pára. O seu bater é apenas o que eu escuto.
Susto. Fecho os olhos e abro. Macabro. Batimentos normalizados,
visão desembaçada e tensão relâmpago
terminada. Olho-me de novo. Ainda solitário. Já
é tarde. Não queria dormir, não queria
ficar acordado.
Chove lá fora. Abafa
aqui dentro. Sinto-me sufocado. Quero soltar-me, sair, liberdade.
Não apresento mais resistência, sinto-me fraco.
Como tentar reagir? Pessoas me cercam, me apertam. Desagradável.
Penso. Não saio do lugar. Afundo de um fundo mundo
ao submundo de um imundo fundo. E nesse mundo asmático
e profundo vivo eu, sozinho e moribundo.
Por que não se mostrar?
Por que ter vergonha? Por que não chorar? Limpa a
alma e tranqüiliza, em todo o corpo, o maior poro.
Sinto-me carente. Nisso, coisas embaraçadas passam
em minha mente. Às vezes machucam, ou melhor, quase
sempre. O espanto do pranto, a segurança da confiança,
o ferrão da solidão e a aliança da
esperança.
Por que os bons morrem cedo
e os maus nem sequer sentem medo? Por que a beleza do velho
falece enquanto a tristeza do novo resplandece? Somente
os bons morrem cedo. Somente os bons sentem medo. Os maus
não. Creio que, na verdade, eles temem o medo.
Um jardim de estrelas brilha
sob o céu de flores. O raiar da lua cobre um sol
sem cores. O bater do cérebro anuncia o pensar do
coração e o cair da vontade acende o despertar
da desilusão. O valor da vaidade se equipara ao mal
da paixão que são enfrentados pelo sentir
da verdade e pela coragem da emoção.
Nem tudo que reluz é
ouro. Viver também dói. Porém, há
- realmente - males na nossa bela vida que vêm para
o bem. Mas em alguns momentos acho que não. Pelo
sim ou pelo não, prefiro ficar com o então.
E no mais, resta-me esperar e me guardar “pra quando
o carnaval chegar”.
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Alan
Terra é jornalista, acha que é escritor
e se mete a enteder sobre vários outros assuntos.
Escreve aqui todas as quartas.
Fale com ele: alanterradutra@gmail.com
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